Viver o PREC. Onde estava a direita no 25 Abril?
Tive a honra e o privilégio de viver ao vivo e a cores o período denominado PREC. Vivi momentos de grande exaltação e de esperança num mundo novo. Para além das expectativas criadas, a vivência do PREC foi, só por si, um momento inolvidável e irrepetível. Para mais era jovem e essa experiência marcou e condicionou toda a minha vida. A discussão nas ruas e em sessões de esclarecimento, as manifestações espontâneas, a partilha de vontades comuns e desinteressadas, constituem um acervo que perdurará na memória daqueles que o viveram. A luta na rua, como na grande manifestação na Alameda, onde o PS de Mário Soares enfrentou a deriva esquerdista que pretendia impor uma ditadura de sinal contrário, é um dos momentos cruciais da instauração de uma democracia em Portugal.
E onde estava a direita no 25 de Abril? Estava escondida, amedrontada, envergonhada, debaixo do chapéu do Partido Socialista. É preciso ser claro: a direita e esta direita arrogante, insensível e amoral que agora nos governa, não teria chegado ao poder sem a acção civil e militar dos socialistas, para que fôssemos governados, democraticamente, com todos os defeitos que este sistema contém. Só por isso o PS merece mais respeito desta santa aliança, que com ramificações em toda a comunicação social, nos quer lavar o cérebro. Pode lavá-lo a incautos, a iletrados políticos e especialmente a esses filhos da democracia que não conheceram o país obscuro que Abril derrubou, mas não o lavará a todos aqueles que sonharam com um pais desenvolvido e livre.
O mini PREC que agora se vive faz-me sentir de novo desperto da pasmaceira em que se tornou a vida política com a normalização do sistema democrático. Tudo se resume a umas eleições de quatro em quatro anos, onde grupos cada vez mais restritos, disputam a caça ao voto, com promessas e mentiras, muitas mentiras. Depois, no entretanto, cometem todos os dislates que ficam sempre sem castigo. Esta democracia, refém de políticos sem cultura, sem história e sem princípios é um simulacro de democracia. Gente sem formação humanista, tecnocratas sem alma, mesmo quando usam crucifixo, blasfemos sem pecado original, filhos de Belzebu disfarçados de pessoas, ocuparam lugares chave da sociedade. Estão instalados em todas as televisões, sem excepção, donde procuram, em homilias concertadas, converter os últimos infiéis. Assiste-se a uma despudorada campanha de captura das consciências. Vivemos um anti 25 de Abril.
A rebeldia de António Costa contra este status, começa a inquietar os próceres dasubmissão. Assim se explica que já tenha posto em campo todos os seus apóstolos da missionação e todos os profetas do apocalipse, alcandorados em púlpitos estratégicos. E até os fariseus colocados dentro do PS estão a ser convocados, com um tal Francisco Assis da parte negra da força, um Judas sem mandato divino. Se Costa conseguir unir a esquerda desavinda e vencer os captores da democracia, que se pudessem a poriam na gaveta, reabrirá o espírito do 25 de Abril. Não sabemos como terminará o processo, mas só o facto de ter ousado derrubar o muro que o PREC abriu, merece a minha gratidão. De facto, desde os tempos revolucionários, que não me sentia tão vivo. Aconteça o que acontecer, valeu a pena, sentir de novo um cheirinho de PREC.
MG