Viajar no tempo
Viajar, é, nos tempos que correm, não apenas uma necessidade, mas um acto lúdico. As viagens tornaram-se uma indústria, com peso significativo na economia da sociedade de consumo. O desenvolvimento do sector de transportes permite que se façam deslocações rápidas e fáceis entre países e continentes. Contudo, as grandes viagens são ainda um privilégio das bolsas mais recheadas. A maioria das populações viaja apenas virtualmente através dos media. A democratização política não passa de uma utopia no que diz respeito à distribuição da riqueza.
Há, no entanto, coisas que o dinheiro não pode comprar. Uma delas é o anseio, milenar, de viajar no tempo. As ditas máquinas que o permitem fazem parte do mundo da ficção. No rompimento das barreiras temporais, a recriação de certos aspectos do passado, é o que mais se aproxima da realidade. De há anos a esta parte começaram a surgir as chamadas feiras medievais. Hoje proliferam por diversas localidades do nosso país. O facto é que são um acontecimento que tem forte adesão popular. Viajar ao passado tornou-se um hábito simbólico que casa ancestralidade com modernidade.
Santa Maria da Feira foi pioneira na realização destes eventos. Pela persistência e pela experiência é, hoje, a maior recriação da Idade Média, que se faz em Portugal. Este ano encantou durante dez dias cerca de meio milhão de visitantes. Quem ruma a terras de Santa Maria, sabe que pode contar com um espectáculo de qualidade, pautado pelo rigor histórico. E a participação do visitante está cada vez mais inserido no próprio espectáculo. No evento de 2014 dissecou-se o reinado conturbado de D. Sancho II. Uma lição de história viva, feita com profissionalismo. Uma viagem da qual saímos a pensar naquela que virá a seguir.
MG