Quando te conheci tu eras,
quando te queria tu estavas,
presente na minha ausência
se a vida nos separava.
Para sentir teu calor
de ausências sempre voltava,
mas um dia, vê tu bem,
eu cheguei e tu não estavas,
procurei-te e tu não eras
e percebi que me amavas.
Tantas coisas por dizer,
tanto carinho esquecido
e nesse lugar distante
onde não te posso ver,
sinto mãe que já soubestes
o que ficou por fazer
e que sem me dizeres nada
tu me estás a proteger!
Quando o sol despertava
Corria pelos trigais e,
Como um espantalho andante
Punha em stress os pardais.
Gostava de ser poeta
Mas um poeta não sou
Não é poeta quem quer
Mas quem expressa a emoção
Numa taça de saber.
Enquanto reinava o dia e,
Douravam os trigais
Eu sentia poesia
Nos trinados dos pardais.
Se nas estrelas navegasse
Em caravelas de luz e,
Em metáforas me afogasse
Punha em versos decassílabos
A métrica dos trigais.
E quando o sol cansado
De tanta seara amar
toca o sino
pra procissão
corre o emigra
no seu carrão
estala o foguete
na festa de verão
O rosmaninho
rasteja no chão
milhares de rodas
comem alcatrão
baratas tontas
em diversão
felicidade
em poluição
À romaria
chega o ladrão
com muitos sorrisos
semeia ilusão
parte confortado
por grande ovação
o sino repica
pra corrupção
Roubam a seara
pra tirar-lhe o pão
espremem o suor
como um limão
esquece-se a injustiça
e a aflição
pára a (...)
Teresa Torga, Teresa Torga
artista do musicall
e para pagar as contas
punha música dançante
já depois do pôr do sol
Faltam-lhe as tábuas do palco
a sua felicidade
fez o seu próprio teatro
n`avenida da cidade
onde dançava desnuda
num corpo já sem idade
e quando uma kodac
ia imortalizá-la
os guardiões da moral
começam logo a tapá-la
coartam a liberdade
à vontade de Capela
mas a cena ganha vida
em notícia de jornal
sem imagem da donzela
onde não fica perdida
porq (...)
imagem net Às sete em ponto da manhã Precisamente Da noite sem fim emergiu o dia “Inicial e limpo” De luz, de sonho, de alegria, E depois do adeus à iniquidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti ó cidade? Às sete em ponto da manhã Pergunto ao vento que passa Notícias do meu país E vento não se cala Em sons clamando diz: “Aqui posto de comando das Forças Armadas" Liberte-se a liberdade "Grândola vila morena Terra da fraternidade". (...)
Herberto Hélder já não faz mais poemas. O poeta morreu. A poesia vive. Parte um poeta e o mundo fica mais pobre. A poesia fica "e já nenhum poder destrói o poema". A marcha inexorável do tempo, leva o poeta para outros horizontes, mas curva-se à sua poesia, porque "o poema faz-se contra o tempo e a carne". Porque isso é SER POEMA.
Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de (...)
Rita (nome fictício) entrou na sala de professores com um ar estranhamente afogueado. A professora na casa dos cinquenta dirigiu-se a uma colega com quem partilhava cumplicidades e entregou-lhe um pequeno e perfumado pedaço de papel. Encontrei-o no para brisas do carro, no estacionamento do pingo doce. (passe a publicidade que o unhas de fome do Jerónimo Martins não me paga nem um cêntimo furado) A colega solicitada leu um pequeno texto em letra de forma:
A MULHER É COMO O VINHO
QUA (...)
Quando o sol despertava
Corria pelos trigais e,
Como um espantalho andante
Punha em stress os pardais.
Gostava de ser poeta
Mas um poeta não sou
Não é poeta quem quer
Mas quem expressa a emoção
Numa taça de saber.
Enquanto reinava o dia e,
Douravam os trigais
Eu sentia poesia
Nos trinados dos pardais.
Se nas estrelas navegasse
Em caravelas deluz e,
Em metáforas me afogasse
Punha em versos decassílabos
A métrica dos trigais.
E quando o sol cansado
De tanta seara amar
Se fazia escuridão
Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras
Ary dos Santos
Fomos levados ao engano
por capote de um cigano
com promessas do camano
beras
Entram moços jotas e comentadores
de falinhas mansas
entram verborreias de falsos doutores
de rotundas panças
entram peões de mentiras e rumores
cuja profissão
se lança
Com verónicas de medo
para nos empobrecer
puseram este país
a morrer
Temos que enfrentar o bicho
(...)