O homem escrevia crónicas numa página de um jornal inventado. Escrevia crónicas sobre tudo e sobre nada. Dominava o verbo como poucos. Debitava ideias ponderadas e buriladas até à exaustão. Não cometia um erro de sintaxe nem um deslize semântico. Tudo no seu lugar: não se esquecia de um ponto, não falhava uma vírgula, exclamações quanto baste, os verbos na conjugação certa, os adjectivos no grau adequado, os advérbios e as conjunções no sítio preciso. As suas ideias (...)
Quem nascer hoje com a nacionalidade portuguesa nasce condenado. Já tem sobre os seus frágeis ombros a carga da austeridade. E terá de a carregar até fazer trinta anos. Quem tiver hoje trinta anos carregará a austeridade até aos sessenta. Quem tiver sessenta viverá com ela o resto dos seus dias. Quem o disse foi o senhor que ostenta o título de Presidente da República Portuguesa. Este senhor considerou, publicamente, que o país ou seja cerca de dez milhões de cidadãos (...)
Exercício particularmente estranho. Não brota da realidade. Nasce e vive estranhamente prisioneiro de si próprio. Nasce e vive na mente que o cria e aprisiona. Não é um exercício sobre as coisas mas sobre o porquê das coisas, da razão de ser das palavras e da sua utilização, na sua vertente mais pura, a poesia.
Ás vezes construo umas frases a que atribuo formalmente o rótulo poesia. Mas sei que não sou poeta. Poesia não se aprende. Grosso modo e salvaguardadando toda a (...)
No primeiro de Maio do desemprego vem a propósito este artigo sobre um dos seus co-responsáveis, publicado hoje, no DN Um discurso Por Baptista Bastos
<input ... > Um alarido inusitado, por injustificável, envolveu o discurso do dr. Cavaco nas cerimónias oficiais do 25 de Abril. No Parlamento a coisa foi pífia, nas ruas a festa assumiu o carácter do protesto contra o que estamos a viver. Ouvi e li o que disse o dr. Cavaco e não fiquei nem surpreendido nem chocado. (...)
A política do governo é uma aberração (...) reina uma teratologia específica nesta governação que nos vai a pouco e pouco enloquecendo. Com a aberração de continuar a funcionar alegre e levianamente.
José Gil
Não podem ser os Antónios Borges a mandar e Portugal. Nem os locais, nem ainda menos, os da Etiópia da Alemanha ou de outra qualquer paragem...
José Carlos Vasconcelos
Em Visão (n.º 1037)