Carlos do Carmo tem uma carreira de cinquenta anos. São muitos dias muitas horas a cantar. Conjuga na perfeição tradição com a modernidade. A qualidade da sua música não passou despercebida à Academia latina. Com toda a justiça atribui-lhe o Grammy de carreira. O primeiro da sua espécie que residirá em Portugal. Parabéns Carlos. Da sua vasta obra o difícil é escolher. É hora de palavra cantada. Viva a música.
Nos saudosos tempos da minha juventude cantava-se de norte a sul e de este a oeste "Ó tempo volta pra trás". A voz matriz deste fado era a de António Mourão. Era um tempo de ideias rigorosamente vigiadas. Era um tempo de liberdade totalmente condicionada. Era o tempo dos três efes, da mediocridade assumida como destino, do pobrete mas alegrete. Certamente que não haveria ninguém que quisesse voltar para trás. O que se queria era andar para a frente rumo a uma vida digna. Mourão (...)
O fado é património oral e imaterial da humanidade. As suas origens são indefenidas e têm dado azo a várias explicações. Nascido em Lisboa, o certo é que o fado se torna canção nacional. "O fadista canta o sofrimento, a saudade de tempos passados, a saudade de um amor perdido, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor, amor e ciúme, a noite, as sombras, os amores, a cidade, as misérias da vida, critica a sociedade…" O fado marinheiro é considerado o primeiro fado.
imagem youtube Cada um é para o que nasce, diz um velho aforismo popular. A ser assim, Gisela João, uma cantora, especialmente engajada como fado, nasceu para cantar. Para sustentar esta afirmação não são necessários grandes argumentos. Basta ouví-la. Uma voz que musicalmente não sei caracterizar, mas que tem qualquer coisa de encantatório. Mas mais do que isso, Gisela impôe-sepela entrega, pela forma como sente o que canta e pela naturalidade com que o transmite. Mesmo (...)
Francisco Rodrigues Lobo, poeta e escritor do século XVI, escreveu. Marco Rodrigues fadista do século XXI, cantou. Eis o resultado:
Tão tirana e desigual Sustentam sempre a vontade, Que a quem lhes quer de verdade Confessam que querem mal; Se amor para elas não vale, Coração, olha o que queres: Que mulheres, são mulheres...
Coração, olha o que queres: Que mulheres, são mulheres...
Coração, olha o que queres: Que mulheres, são mulheres... Se alguma (...)
O Relvas foi-se embora
E a vida pra mim mudou
O que vou fazer agora
Sem um clown para o show
As horas são mais sombrias
Os dias parecem anos
Foram-se as alegrias
De enganos e desenganos
Ficam as análises frias
Dos verdadeiros ciganos
Ó tempo volta pra trás
Ameniza a minha pena
Pois quero voltar a ouvir
Relvas Grândola morena
Á sombra de uma azinheira
Já só resta a saudade
De ouvir a versão foleira
Na voz da minha cidade
Ó tempo volta pra trás
Com (...)
Ó tempo volta para trás
O Sócrates foi-se embora
Á vida para mim mudou
Esta cá a troika agora
E quase tudo me tirou
As horas são como dias
As horas são como dias
Os dias são como anos
Já só resta a saudade
Já só resta a saudade
Depois de tantos enganos
Refrão
Ó tempo volta para trás
Traz de volta o que perdi
Tem pena e leva contigo
A Merkle e o Sarkozi
Como levaste o Mourão
Ó tempo volta para trás
Ao tempo da vida sã
E traz o Sócrates de volta (...)
O fado é uma invenção nacional e o que é nacional é bom. Pondo de parte a polémica das suas origens, o fado só podia ser português porque traduz a idiossincrasia da alma lusa. Nascido em Lisboa, depressa se tornou canção nacional, cantado nos campos e nas cidades. Independentemente dos temas, não o considero uma canção triste. Pelo contrário, vejo-o como uma forma do povo exprimir os mais variados sentimentos isto é como uma forma de exprimir a vida. Alguém imagina um (...)
Fado: destino, fatalidade, Providência O xaile de minha mãe Que me aqueceu com carinho mais tarde serviu também pra agasalhar meu filhinho. O xaile é uma peça de vestuário que caíu em desuso. Na prática continua associado ao fado, versão feminina. Em il tempori, o xaile era para as mulheres dos meios rurais como os chapéus para os homens, ou seja, andar sem essas peças de vestuário era como estar despido. A mulher camponesa, usava-o como agasalho ou (...)
Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.
Cecília Meireles
A poesia reflecte a vida. A (...)