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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

06 Dez, 2019

Sonho mau

Tive um sonho mau. Não sabia bem onde estava. Um sítio estranho e escuro. Uma figura saiu de uma espécie de neblina como um D. Sebastião não desejado. Era esguia e de contornos imprecisos. Algo sinistra. Arrisquei perguntar: -Onde estou? A figura esfíngica fez um esgar assustador e disse em palavras marteladas: -Não sabes onde estás? Eu vou-te dizer: estás no mundo dos mortos. -Confesso que me assustei. Que raio fazia ali, se ainda não tinha gozado a minha reforma. Tinha saído (...)
Por um acaso, por uma daquelas reminiscências inexplicáveis, que de quando em vez no batem à porta, vi-me transportado para os tempos longínquos da juventude, quando tive de ser militar à força. Por acaso ou obra do destino, fui parar a regimento de Artilharia de Costa, único que não dava mobilização para a guerra colonial, e no âmbito desta unidade a um pequeno aquartelamento de defesa da costa atlântica, no alto da Trafaria. Ali estava um destacamento de cerca de duas dezenas (...)
    Entrei a carruagem do metro a uma hora tardia. Hora morta, diz a voz corrente. Pouca gente e muitos lugares vazios. Sensação de vazio. Sentei-me num lugar junto à janela. Reminiscência da mítica idade infantil, quando fazia birra para ter um lugar com vista para a paisagem, nos comboios que  “pouca terra, pouca terra”, pintavam a paisagem de cinzento, com o fumo que exalavam, como fumador viciado, da chaminé da máquina a vapor. Reparei que à minha frente se sentava (...)
Para o leitor compulsivo entrar numa livraria é como para o crente religioso entrar na sua igreja. Com respeito e devoção. Percorre os altares, no caso prateleiras, Presta veneração aos santos, ou seja aos livros e aprecia os milagres que fazem na mente dos fiéis, os seus leitores. De quando em vez, arranca um livro à pasmaceira do seu dia-a-dia e consulta-o, porque o livro gosta de ser folheado e de partilhar com o leitor a sua intimidade. Acredito que livro sem leitor vive triste (...)
10 Mai, 2016

Baile

No tempo em que o engate fazia parte do meu quotidiano, fui convidado por companheiros de “route” para um baile particular, numa espécie de salão de bombeiros. O intuito era reunir malta jovem vinda de distantes regiões do país e que vivia numa zona da cidade grande, para tirar, num corpo a corpo ritmado, um sarro com umas macacas, expressão usada por um amigo meu,o Joaquim, creio que com sentido carinhoso. Na hora marcada compareci com a minha turma para dar o anunciado pé de (...)
Todas as idades têm o seu encanto. Na infância a inocência. Na juventude a ingenuidade. Na idade adulta a maturidade. Na velhice a experiência. Grosso modo e de uma maneira simplista. Estou na fase da experiência o que  significa que já passei por todas as outras, com mais ou menos variantes. Cada caso é um caso. Eu, sempre acompanhado da minha experiência, de alguma inocência e de ingenuidade quanto baste, mantenho o antigo ritual de me sentar na mesa de um café a tomar uma (...)
O homem escrevia crónicas numa página de um jornal inventado. Escrevia crónicas sobre tudo e sobre nada. Dominava o verbo como poucos. Debitava ideias ponderadas e buriladas até à exaustão. Não cometia um erro de sintaxe nem um deslize semântico. Tudo no seu lugar: não se esquecia de um ponto, não falhava uma vírgula, exclamações quanto baste, os verbos na conjugação certa, os adjectivos no grau adequado, os advérbios e as  conjunções no sítio preciso. As suas ideias (...)