Estimada mãe e pai, como é que vão. Por cá vou indo menos mal graças a Deus... Naquele tempo, naquela aldeia, a camioneta da carreira chegava todos os dias, impreterivelmente, às dez em ponto da manhã. Impreterivelmente às dez em ponto da manhã, o senhor António Sales, cego de um olho, recebia das mãos do motorista o saco do correio. ...por cá a vida continua dura de roer levanto-me cedo para limpar a loja e quando o patrão chega para a abrir está tudo (...)
Aqui neste exílio dourado, neste ostracismo assumido tenho procurado esquecer-te, apesar da ratoeira que me armaste. Mas para a minha imagem, estiveste divinal. Caíste na esparrela que um dia me armaste. Puseste a nua tua verdadeira face, aquela faceta mesquinha da alma nacional, que vive recalcada no mais fundo de nós.
Com a manha do caçador furtivo esperaste pacientemente pela tua presa. Eu sei que foram anos meses e dias de sofrimento. Longas noites de insónia. Depressões (...)
Quando não há nada para dizer o que se faz? Pôe-se música. Não sei como nem porquê lembrei-me desta:
mas também não sei porquê isto fez-me lembrar o tempo em que se escreviam cartas" Querida mãe, querido pai como é que vão, eu estou bem graças Deus", depois falava-se do dia a dia, de alegrias, de tristezas, de sucessos, de insucessos, do calor, do frio, enfim das banalidades que povoam o nosso quotidiano. Às vezes, quando a vida o proporcionava escreviam-se (...)