Estimada mãe e pai, como é que vão. Por cá vou indo menos mal graças a Deus... Naquele tempo, naquela aldeia, a camioneta da carreira chegava todos os dias, impreterivelmente, às dez em ponto da manhã. Impreterivelmente às dez em ponto da manhã, o senhor António Sales, cego de um olho, recebia das mãos do motorista o saco do correio. ...por cá a vida continua dura de roer levanto-me cedo para limpar a loja e quando o patrão chega para a abrir está tudo (...)
A vontade pode mover montanhas. Acreditar é meia vitória. Desejar o impossível é conseguir o possível. Foi por este caminho que se fez Portugal. Foi com esta dinâmica que Portugal não foi mais uma região de Espanha, para o bem e para o mal. Se assim não fosse teria sido diferente a história peninsular e possivelmente até a história mundial.
Razões de ordem histórica povoaram o interior do país. Razões de ordem económica e conjuntural desertificaram-no. E se (...)
A minha aldeia tem ruas, tem casas e também tem pessoas. Já não tem o vigor de outrora mas ainda vive. Ao contrário de outros lugares similares ainda tem algum sangue novo que lhe alimenta a esperança de uma recuperação do seu debilitado tecido social. É preciso criar condições para que não se esvaia definitivamente
. Cabe ao poder politico central pensar o pais como um corpo funcional em todos os seus membros. Cabe ao poder central prever e planificar um país (...)
Nasci e cresci numa aldeia. Era uma aldeia parecida com tantos outras. Era uma aldeia cheia de gente e de vida. Gente simples, gente modesta, gente feliz. O trabalho era o lema do dia a dia. Mas num quotidiano de trabalho duro havia sempre tempo para conviver de forma singela e saudável. A convivência aprendia-se na família e continuava na escola. A escola ainda separada por sexos fervilhava de vida, de alegria de entusiasmo. A escola era a imagem de uma comunidade cheia de vitalidade. (...)
Dança de danados com cadeiras Manhã Aquele sábado de fim de primavera amanhecera escuro e chuvoso. Parecia que o céu, com o seu cortejo de nuvens prenhes como odres, se ia abater sobre a terra seca e faminta de água. Às oito da manhã nasci da cama com os primeiros raios de sol que se esparramavam pelas frinchas das janelas sem as lentes de vidro que nos protegiam dos ataques do suão (...)
Um dia de anos No dia em que ia fazer onze anos José acordou, como sempre acontecia, com a luz matinal que de mansinho escorria pelas frinchas do caniço. A tenebrosa escuridão que o mantinha escondido, entre a enxerga e o cobertor, ia desaparecendo tal como os medos que à noite lhe povoavam a mente. Percorreu ensonado o corredor que o levava até à pequena cozinha da casa dos seus avós com quem vivia por opção. Da esculateira desprendia-se o aroma do café de cevada que todas as (...)