Capitães do meu país Soldados da minha terra Viram o povo infeliz E com paz fizeram guerra. No alvor da madrugada Acordaram a cidade E sem nunca pedir nada Ofereceram liberdade. No força que idealizaram Esperança de mil cores Quando as armas dispararam Delas saíram flores. E no seio da revolução Nasceu uma democracia E com ela a convicção Que é real a utopia. E quem nunca viu Abril Nem sabe a revolução Urdiu artimanhas mil Subjugou a nação. É tempo de ir para a guerra E (...)
Capitães do meu país
Soldados da minha terra
Viram o povo infeliz
E com paz fizeram guerra.
No alvor da madrugada
Acordaram a cidade
E sem nunca pedir nada
Ofereceram liberdade.
No força que idealizaram
Esperança de mil cores
Quando as armas dispararam
Delas saíram flores.
E no seio da revolução
Nasceu uma democracia
E com ela a convicção
Que é real a utopia.
E quem nunca viu Abril
Nem sabe a revolução
Urdiu artimanhas mil
Subjugou a nação.
(...)
Aquela estranha e leda madrugada Cheia de esperança e de felicidade, Vive e revive na nossa saudade para ser sempre celebrada.
Levanta-se o país adormecido Clama! Liberte-se a liberdade, Pela força da razão, e da vontade, Depois de anos e anos reprimida.
Nas ruas, corre caudaloso rio, Em ondas de gente desvairada, Mostrando o ancestral brio,
Da nação, há muito, enclausurada. Batel, barco , nau, navio… Naquela leda e feliz madrugada.
Em 1975 a comunicação social estava refém de um processo político revolucionário esquerdista, que pretendia instaurar uma ditadura de sinal contrário à que tinha sido derrubada. O direito à expressão livre estava ameaçado. A viragem para a pleno pluralismo de opinião, começou com um episódio que surpreendeu os espectadores que viam, em directo, o capitão Clemente, na sua prédica de educação da classe operária. A emissão, perante o espanto do revolucionário de (...)
Tive a honra e o privilégio de viver ao vivo e a cores o período denominado PREC. Vivi momentos de grande exaltação e de esperança num mundo novo. Para além das expectativas criadas, a vivência do PREC foi, só por si, um momento inolvidável e irrepetível. Para mais era jovem e essa experiência marcou e condicionou toda a minha vida. A discussão nas ruas e em sessões de esclarecimento, as manifestações espontâneas, a partilha de vontades comuns e desinteressadas, (...)
Passou mais um dia 25 de Abril. Alguém chamou à sessão solene na AR, a sessão soneca. Estas comemorações no hemiciclo merece bem o epíteto. Discursos de circunstância, sonolentos, vazios de conteúdo. Um frete que todos os presentes esperam que acabe depressa. Mas as manifestações comemorativas tocam pelo mesmo diapasão. Transformaram-se num ritual, onde os ritos se repetem, mecanicamente, de ano para ano. E apenas um grupo de fiéis se empolga com a cerimónia, igual a tantas (...)
imagem net Às sete em ponto da manhã Precisamente Da noite sem fim emergiu o dia “Inicial e limpo” De luz, de sonho, de alegria, E depois do adeus à iniquidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti ó cidade? Às sete em ponto da manhã Pergunto ao vento que passa Notícias do meu país E vento não se cala Em sons clamando diz: “Aqui posto de comando das Forças Armadas" Liberte-se a liberdade "Grândola vila morena Terra da fraternidade". (...)
Zeca AfonsoNo centro da Avenida No cruzamento da rua Às quatro em ponto perdida Dançava uma mulher nua A gente que via a cena Correu para junto dela No intuito de vesti-la Mas surge António Capela Que aproveitando (...)
Depois da fome, da guerra Da prisão e da tortura Vi abrir-se a minha terra Como um cravo de ternura E agora o povo unido nunca mais será vencido Este poema de Ary dos Santos que foi canção ícone da revolução dos cravos é exemplificativo do exagero ingénuo dos poetas. Por duas ordens de razões: a primeira é que o povo nunca foi unido; a segunda é que sempre foi e continuará a ser vencido. O povo aqui visto como a classe produtora, aquela que produz a riqueza, mas que dela (...)
imagem retirada da net Fazes hoje quarenta anos. Nascestes no dia 25 de Abril de 1974. Tive o raro privilégio de te ver nascer naquela tarde primaveril de Abril. No largo do Carmo assisti ao teu parto sem dor. Parabéns democracia. Quarenta anos é cerca de metade da vida de um cidadão. Mas para um regime político é ainda o início da infância e da enorme ternura que merece. Tivestes pais generosos, que sem egoísmo, te entregaram a pais adoptivos para te ajudarem a crescer. (...)