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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Entre viver para comer ou comer para viver, a escolha é complicada. As duas opções fazem sentido. E eu como todos os viventes cumpro a lei da natureza pela sobrevivência. Mas também também não dispenso uma comidinha bem saborosa. Quem a dispensa?.E se o Senhor nos fez com papilas gustativas é porque não nos quis privar dos sabores dos alimentos. Pelos vistos só proibiu a maçã.

Digo porque sei, de fonte segura, que já nos tempos idos, se comia, quando havia comida, com imenso prazer. Uma das iguarias que fazia salivar os indígenas era uma lagosta mesmo ao natural. Dando um pulo no tempo, está ainda na memória de muita gente, o espectáculo gastronómico dado pelos roedores de crustáceos de Cacilhas, no tempo do PREC. Foram tempos de prosperidade, à sombra da valorização salarial da malta dos estaleiros navais. Que lhe tenha feito bom proveito. Nem sequer os invejo.

Fujo á regra geral. Esses bichos de casca não me abrem o apetite. A não ser que a lagosta esteja bem bronzeada e com sabor a sal. Mas seja como for, prefiro antes uma boa febra de porco ou porca pretos ou de outras cores, bem portuguesa, no primeiro ou no segundo sentido. Ao natural, com muito ou pouco molho. E como não sou esquisito, não faço questão de serem só das mais tenrinhas. Mesmo as mais maduras, se vierem, também são bem recebidas pelas, gustativas, olfactivas, ou tácteis. Isto porque todas têm direito a serem desejadas. Em qualquer sentido, bem entendido. E se cair alguma chouriça na ementa não deixa de ser um bom aperitivo.

Outro prato que me delicia, são as iscas com ou sem elas. Se for com elas melhor, é como atingir o paraíso, mas se não for é como se fosse. Usa-se a imaginação. E se vier uma lasca de bom lombo, nem penso duas vezes, não vá outro mais expedito deitar-lhe a unha. Maminha, um prato mais abrasileirado, também me tira do sério. E então bem aquecida faz-me sentir o calor dos trópicos, sem nunca lá ter estado.  

Para sobremesa não recuso uma barriga de freira. Um pitéu de fazer água na boca. É doce, cremosa e única. Ao que consta, o nosso rei D.João V, era grande apreciador, sobretudo das do Convento de Odivelas, onde ia comê-las frequentemente. Contudo, é um pitéu caro. Não está ao alcance de todas as bolsas. Pelo menos não há o risco de cair no pecado da gula. Diz-se que depois de provadas é comer e chorar por mais.

Enfim, concluo:  comer só para viver, pode ser necessário, mas é uma sensaboria. Viver para comer, em qualquer sentido, é o cerne da vida. E bem fez a Eva em dar uma dentada na maçã, desobedecendo às prescrições divinas. Até aí aquilo não atava nem dasatava. Digamos que sem saber escreveu direito por linhas tortas. Bem haja. Se assim não tivesse sido ainda por lá andavam num bocejo eterno. Nem as febras pululavam por aí, nem esta croniqueta podia ter sido escrita. 

MG