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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

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24 Out, 2015

O rapaz das pizzas

 De Pisa gosto daquela torre que desafia há séculos a teoria da gravidade. A outra pizza, feita para degustar, não me faz salivar as papilas gustativas. Daí o meu espanto, quando na noite da libertação de Sócrates, vi aparecer no seu novo domicilio, graças ao big brother instantneo, o rapaz das pizzas. Sempre pensei que o Sócrates com a carteira, palavra de tablóides, tão bem recheada, tinha que ter gostos mais refinados. E já lhe bastava estar à um ano a comer comida de rancho, para no primeiro dia fora da prisão, aderir a esse acepipe gastronómico, cujo segredo está na massa. Quanto a massa, dizem as más línguas, a sua preferida é a que se cozinha na oficina da casa da moeda. A não ser que esta fosse transportada por uma rapariga que além de fazr a entrega, servisse à mesa e ajudasse o senhor engenheiro, que antes de 0 ser é Homem, a expandir o seu sabor à saciedade de todos os sentidos, reprimidos durante um ano.    

Mas que fique claro que eu só falo no Sócrates, com todo o respeito, porque entrou sem sequer  ser convidado na saga do homem da pizza. E digo sob palavra de honra que eu, cidadão impoluto, acima de qualquer suspeita, não quero ver o meu nome associado a um meliante do pior, ou do melhor se considerarmos a qualidade de meliante. E também esclareço que a designação de meliante não é da minha lavra. Limito-me a seguir o senso comum. Não sou juiz, nem em causa própria, e por isso não julgo. Aliás, o processo que o envolve mais me parece uma matrioska. Abre-se uma e o que tem dentro é outra, com a particularidade de estarem todas vazias.

Deixemos este personagem menor e voltemos ao verdadeiro herói da história, o rapaz das pizzas. Nunca percebi porque raio foi o homem entregar uma encomenda que não tinha sido feita. Para mais tinha o endereço incompleto. Ouvi as mais desvairadas teorias, sendo a mais divulgada a de publicidade encapotada à marca que as produz.Tanto mais que o rapaz parecia ter o discurso bem estudado, pela lição de culinária que deu em directo a todas as televisões. Muitos "pezeteiros" devem ter ficado com a água na boca. Não eu, que tenho uma boca santa.

Bloqueio. Chegado a este ponto, não sei como hei-de dar a volta ao texto. E não estou a fazer género. Não sei mesmo.Aquele fugaz e inesperado (perdão pelo excesso de adjectivação) momento de coisa nenhuma, esgota-se em poucas palavras. Mas se não faz sentido fazer uma pizza que não é para ser comida, porque é que há-de fazer sentido escrever uma qualquer crónica de um obscuro escrevedor? O que faz sentido é o sentido que não tem. O que faz sentido é darem-nos hoje mais uma hora de vida para a voltar a tirá-la  alguns meses depois. O que faz sentido é fazer parecer que a ilusão é realidade. E que a pizza é e não é. E que escrevinhar sobre um não assunto  serve, para o escrevente, para se abstrair de que o mundo é uma pisa, cada vez mais inclinada, cujos ingredientes são manipulados por cozinheiros mentalmente perturbados. E que para o incauto leitor, sirva no mínimo, para perceber que numa pizza pode haver muitos mais sentidos que o gastronómico.  

MG