O maior sujeito da história
Transcrição do texto de Viriato Soromenho Marques, publicado no DN. Sem comentários.
O maior sujeito da história
Já acreditámos que o sujeito da história residia na vontade divina, em heróis messiânicos, no impulso para a paz universal, no motor da luta de classes, na expansão do mercado livre. Contudo, nenhuma dessas teses resistiu ao atrito da realidade. No interior do fio enrodilhado da história espreita, pelo contrário, a estupidez humana (que Einstein considerava ser mais seguramente infinita do que o universo). Em numerosos domínios, a humanidade conseguiu criar filtros e mecanismos de redução do erro, do disparate, da incompetência. Nas empresas, na tecnologia, na ciência, até na guerra. Só na política, mesmo nas democracias constitucionalmente sofisticadas, a estupidez parece permanecer instalada no posto de comando. Olhe-se a nossa Europa. Parece uma nau já sem mastros, sacudida por vagas sucessivas: uma união monetária que destrói riqueza e trabalho; uma vaga de refugiados vinda de Estados fronteiriços que ajudámos, por atos e omissões, a implodir; ataques terroristas que revelam o preço a pagar por quem baixou a guarda; tribunos que empurram os europeus para o fogo, para os salvarem da panela de água fervente...Na edição francesa (1937) d" A Rebelião das Massas, Ortega y Gasset profetizava a inevitável unidade política da Europa, dizendo que a sua ocasião talvez surgisse quando "a trança de um chinês espreitasse sobre os Urais, ou pelo estremecer do grande magma islâmico". Em vez da unidade europeia, tivemos o segundo suicídio europeu na guerra de Hitler. Hoje, o "magma islâmico" derrama sangue nas ruas de Paris. O genial Ortega esqueceu-se da sua própria lição. Hoje somos governados por "senhoritos satisfeitos". Em vez da agenda para uma Europa com futuro, têm uma lista de desejos e clientelas apressadas por satisfazer.