Nobel Malala
Há uns meses escrevi este texto sobre Malala. Hoje soube-se que lhe foi atribuído o prémio Nobel da paz. Um justo reconhecimento da sua luta. Aqui reponho esse texto, que continua, totalmente, actualizado
Uma criança, um professor, uma caneta e um livro e mudamos o mundo .
Com uma lucidez invejável e rara na sua idade esta jovem muçulmana pôs o dedo na ferida. Como a história, ela própria desvalorizada nos mostra, as grandes saltos civilizacionais são feitos pela cultura. Convêm lembrar que a grande aventura humana rumo ao progresso começou com a invenção da escrita. O principal legado da pré-Antiguidade é o alfabeto. A grande herança da Antiguidade sãos os avanços culturais da Grécia. O que de melhor nos ficou da Idade Média foi a preservação da cultura clássica nos círculos fechados do monaquismo. Foi com esse legado que no Renascimento se construíram os alicerces das sociedades modernas. Aí se gerou o liberalismo e se foram germinando as bases do humanismo.
O Islão após a sua fase de grande desenvolvimento cultural caiu numa idade de trevas de que nunca mais saiu. A casta dirigente percebeu que só se pode perpetuar ad eternum montada na ignorância. Daí que mantenham os seus povos presos de fundamentalismos religiosos ancestrais. O conhecimento continua capturado por elites poderosas que o escondem da maioria da população. Nestas sociedades teocráticas um dos grupos mais afastados do saber são as mulheres. Os detentores do poder sabem que no dia em que se alargar o acesso ao conhecimento a todos acontecerá uma verdadeira revolução democrática.
Malala com a sua visão iluminada, a sua determinação, a sua coragem num contexto extremamente adverso, está a travar uma luta sem tréguas contra o obscurantismo. Será apenas e ainda uma pequena fagulha, incapaz de atear uma grande fogueira num terreno hostil, mas pode acender outros pequenos fogos, replicando outras "malalas", que mobilizem consciências empedernidas. Creio que será um processo longo mas seguramente imparável e que não deixará, também, de ter reflexos nas sociedades ocidentais, reféns de interesses obscuros e em constante regressão civilizacional. Contrariamente aos neo-profetas da desgraça, aos zeladores do primado dos mercados, Malala está a demonstrar que a construção de um mundo mais justo passa, como sempre passou, pelo generalização do conhecimento. Bem haja.