Não acontece mesmo nada
A pior angústia de quem escreve, por obrigação ou gosto, é a falta de assunto. Nos dias que correm encontrar assunto interessante é quase como procurar agulha em palheiro Revolve-se, revolve-se, e só sai palha. O mundial de futebol já era. Depois de não haver cão nem gato que não tenha dito uns bitaites sobre o assunto é como chover no molhado. Para mais, depois de doses maciças de opiniões e comentários, até enjoa o estômago mais robusto. O vómito está à flor da pele. Não dou para esse peditório.
Há pois! E o caso Espírito Santo? Bem, de mansinho como uma brisa matinal vai crescendo e está quase a tornar-se furacão. À partida parece ser assunto que apenas interessa a banqueiros. Parasitas! Que se lixem. Bem, também há os accionistas. Pois, gente de muito dinheiro. Cambada é o que é. Está certo, mas e os depositantes? Bom, os grandes que se aguentem. Exploradores! Os pequenos estão protegidos por uma garantia bancária. Então está tudo no melhor dos mundos. Conversa para encher? Não contribuo.
E a Bolsa está mesmo a pirar. Ou não? Pode ser, mas é bem feito. Não me interessa o que acontece a exploradores. Mas lá existem economias de pequenos accionistas. Ou não? A Bolsa é um investimento de risco, uma espécie de casino. Sabe-se. Se puseram lá economias e as perderem é bem feito. Quem tudo crer tudo perde. Garganeiros! Não se perde tempo com viciados. Assunto arrumado.
Os mercados começam a ficar nervosos. Aliás, ficam nervosos por dá cá aquela palha. Que fiquem. Bem, mas atrás do sector financeiro está a economia. E a economia somos todos. E lá vamos alegremente de crise em crise até à crise final. Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão. E o mexilhão somos nós. Fazer o quê? Aguentar. Esperar que o mar acalme. Depois ocupar a orla das praias. O verão é curto. Para quê massacrar as palavras se não acontece nada.
Ao remexer no baú das coisas passadas encontrei este texto escrito precisamente há um ano. Li e reli. Podia ter sido escrito neste preciso momento. Acoteceu tal e qual. E continua a acontecer. Pois. Aproveite-se o verão. Não acontece mesmo nada.