Juízo do ano que aí vem
Mais uma ano que termina, mais um ano que começa. Despedimo-nos do velho, festejamos o novo. Rei morto rei posto. E contudo trata-se apenas de mais uma data do calendário na inexorável marcha do tempo. Mais uma data que serve para uns festejos mais ou menos comerciais porque tudo gira à volta do consumo.
Entretanto o zé pagode ou o zé pagante cumpre a tradição, come umas passas, bebe um espumante nacional ou importado e debita una lugares comuns de bom ano: feliz ano novo, muita paz e ainda mais felicidade. Depois volta ao lufa lufa do dia a dia nem sempre muito feliz. Desenterra o machado de guerra e esquece a paz por mais trezentos e sessenta e cinco dias. Na família, no trabalho, nas buzinadelas e insultos das guerras de latas, no civismo mitigado. Das guerrinhas do nível micro para as guerras do nível macro é um ver se te avias. Armas, mortes, sofrimento e dinheiro, muito dinheiro, mais um Banco para pagar. Nova corrida, nova viagem.
Espero um ano como todos os outros. A hipocrisia de muitos políticos e das suas ladainhas; o despertar dos monstros da xenofobia; a divisão da sociedade em esforçados produtores e preguiçosos sem emenda; uma divisão da riqueza muito desigual (90% com a mesma quota que 10%); Os dez por cento cada vez mais ricos e os noventa por cento cada vez mais pobres, excepto quando do lado da pobreza alguém ganha o euromilhões e se transforma em milionário excêntrico.
A única riqueza que ainda não é totalmente sonegada é a saúde individual. Mesmo assim continuarão a ser limitados universalmente os serviços públicos que a tornavam mais igualitária. Sim porque pobre dá muita despesa. Pode acabar o ano velho, mas não nasce um novo ano no quotidiano ilusório das vidas sem vida. Afinal o que comemoramos com urras e fogo de artifício é mais do mesmo. No entanto como não quero ser desmancha prazeres cumpro a tradição: um bom ano com saúde, paz e esperança no milagre de um mundo melhor.
MG