Jean Pierre, tu va tomber
Nas últimas décadas do século XX, no verão, as nossas estradas, de má qualidade, animavam-se com a invasão de carros de grande cilindrada e matrícula estrangeira. Eram os emigrantes portugueses vindos da Europa desenvolvida e que vinham de "vacances" à terra mais madrasta que mãe. Para além do carro, portador de estatuto social, usavam a língua do país de acolhimento para o mesmo efeito. Ainda hoje se utiliza, com carácter anedótico, a expressão:
...porra o moço já partiu os cornos!
A entrada na comunidade europeia trouxe fundos e mais fundos. Uns perdidos, outros aplicados, com alguma utilidade. Está neste caso a melhoria de infra-estruturas, nomeadamente as estradas. A prosperidade pouco consistente, trazida pelos dinheiros europeus, permitiu que Portugal, no início do século XXI, passasse de país de emigração a país de imigração. Fomos inundados por emigrantes de leste e do Brasil. Os carros dos emigrantes tugas foram diminuindo nas modernas auto estradas.
Durante este verão, nos meus percursos por esse Portugal, de norte a sul, pareceu-me ter regressado ao passado.Os automóveis de matrícula estrangeira voltaram em força. Com uma pequena diferença: a cilindrada não me parece tão elevada. Sinal dos tempos. Contudo, o que merece ser assinalado é que bastaram três anos para recuarmos ao tempo de um país de emigração, como uma sina traçada na palma da mão. E esse é um destino, que nos é proporcionado por uma elite de gente medíocre, a quem temos entregado, de mão beijada, a direcção desta nação secular. Mas se já saímos doutras situações obscuras, também, sairemos desta. E apenas ouviremos dizer às nossas crianças:
Tem orgulho, João Pedro, nasceste na mais antiga nação da Europa.
MG