Há dias assim
Há dias mais tristes que a noite. Isto partindo do princípio que a noite é triste. Relacionar a noite com a tristeza será apenas uma força de expressão. Percebo. Por antinomia o dia é luminoso e a noite é escura. Mas atribuir ao dia ou à noite sentimentos da natureza humana, não passa de uma figura de estilo. Em boa (ou má) verdade, afirmar "que dia tão triste" não tem a ver com a situação do dia, mas com o estado de espírito de quem faz a afirmação. Verdade de La Palisse.
De um certo ponto de vista, todos somos um pouco bipolares. Balançamos entre alegria e tristeza pelas mais variadas razões. Dizemos: "o dia y foi o mais triste da minha vida ou guardamos no lado positivo da memória o dia z". E como todas as tristezas são passageiras, todas as alegrias são breves. Tal e qual como os dias. Daí que que associemos os nossos humores a esta ou aquela data.
Uma equipa de futebol perdeu com a Alemanha? Foi um mau dia para Portugal. Corremos com os castelhanos em 1 de Dezembro de 1640? Foi um dia feliz para a nação. Tão feliz, que ganhou direito a entrar na galeria, de estar presente, no dia a dia de gerações passadas e vindouras. Ao invés, terá sido um mau dia para os castelhanos e por isso, propositadamente, esquecido. Ora aí está. Bom ou mau, triste ou alegre? Eis a questão.
Voltando ao ponto de partida: um dia o Criador achou por bem criar o mundo. Como avaliará esse dia? Com tantas coisas interessantes para fazer, porque raio criou o mundo? Com tantos assuntos interessantes para escrever porque raio, o cronista gasta o seu latim com especulações metafísicas? Ou dito de outra forma, com reflexões idiotas? Ou será sinal de insanidade mental?
Não sei! Mas há dias assim!
MG