Fim de semana alucinante
Aquele país imaginário ou imaginado estava uma pasmaceira. Os seus habitantes sofriam de uma estranha doença. Vegetavam como zombies numa espécie de sono encantatório. Havia até quem admitisse que estavam sob o domínio maléfico de uma bruxa má. Tentaram-se vários esconjuros. Aplicou-se a receita tecnoforma sem resultado. Colocara--se num labirinto. A pasmaceira persistia.
Até que alguém,não identificado, presentou uma solução radical. Tratava-se de os exorcizar todos os males com um animal feroz. Acendeu-se o Sol, ou dito de outra forma fez-se luz. Mas onde encontrar esse animal,num país amorfo de carneirada, incluindo os lobos disfarçados? Até que alguém, não se sabe quem, sugeriu que se podia imaginá-lo. E imaginou-se um que não destoava de um país imaginário.
A etapa seguinte consistia em arranjar um domador. Alguém, há sempre alguém, disse que conhecia um que por caso até era o único. Tinha o perfil ideal. Fora gerado acima de qualquer suspeita. Havia quem garantisse que teria sido gerado sem pecado, embora não fosse filho de um carpinteiro e de uma virgem. Mas era filho de um mensageiro da manhã e de uma dama de pés de cabra. Era de uma pureza de desafiava a essência do conceito. Não se lhe conhecia um deslize. De certo não fora conspurcado pelo pecado original das fraquezas do género humano. Os cidadãos de um país sem cidadãos, curvavam-se perante a santidade do justiceiro. À justiça o que é da justiça disseram em coro. Infalível.
Chegou a hora de montar o circo. O espectáculo estava pronto. Estava na hora de acordar o povo pasmado. Ia começar um fim de semana alucinante. O animal feroz, inventado, desceu dos céus como um cavaleiro do apocalipse, sem visto Gold. O domador puxou do longo chicote justiceiro e domou com pompa e circunstância o animal. Sacou-lhe as garras roubadas a outros animais. Soaram as trombetas. O povo acordou estremunhado. Do espanto passou à euforia. As emoções estavam ao rubro. Aleluia. O encantador de consciências estava domado. O reino salvou-se.
Na arena imaginada o povo rejubilava. Depois de um longo sono vivia a realidade virtual. Abata-se, esfole-se. Acabaram-se as nossas agruras.A multidão alucinada queria mais. Mas o domador imaculado consultou o deus menor que adora e decidiu: o animal feroz vai recolher aos curros. Precisamos dele porque o espectáculo tem que continuar. Este é apenas o primeiro acto.
PS aplique-se o lugar comum: não se pode estabelecer qualquer semelhança destes não factos com a realidade.
MG