E tudo o vento levou
Estava a ter um dia aborrecido. Desisti de ver televisão. Mais do mesmo. Plantei-me no Face à espera dos amigos. Eles andavam por ali, mas muito fixados no seu umbigo. Nenhum me viu. Saí como entrei, de rabo entre as pernas, salvo seja. Enfiei-me num livro do Lobo Antunes, mas tive de me pirar. Estava a ficar lobotomizado, sem cirurgia. E o dia continuava aborrecido e não conseguia fazer nada por ele.
Pus os calcantes em movimento. Fui até à pastelaria beber uma bica. Nada a assinalar. Umas senhoras idosas a ler o CM. O costume. Uns cavalheiros com ar de reformados a ler a Bola. Habitual. Uma criancinha a mudar de lugar os cestos do lixo. Natural. Uma jovem a teclar furiosamente no Iphone. Nem uma fagulha para me incendiar o ânimo.
Telefonei à Maia para me fazer o horóscopo. Há um novo amor na sua vida, espera-o ansiosamente. Está mesmo à sua frente, mas cuidado que a concorrência é feroz. Cairam-me os olhos na revista aberta numa entrevista de Sara Sampaio. Que partida que me pregava o destino. O meu dia estava salvo. À socapa rasguei a folha e saí apressado. Talvez tivesse algum contacto. Caminhava entusiasmado com o meu tesouro, quando chegou, sem aviso, a aviso vermelho da meteorologia. Sem aviso, o aviso, arrancou-me a folha da mão e levou-a pelos ares. Guardado está o bocado para quem ohá-de comer. Adeus Sara Sampaio. Estive tão perto. Mas tudo o vento levou. E tudo em menos tempo que levo a contar. Sonho ou realidade? Loucura ou genialidade?
MG
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