Democracia-a ternura dos quarenta
imagem retirada da net
Fazes hoje quarenta anos. Nascestes no dia 25 de Abril de 1974. Tive o raro privilégio de te ver nascer naquela tarde primaveril de Abril. No largo do Carmo assisti ao teu parto sem dor. Parabéns democracia. Quarenta anos é cerca de metade da vida de um cidadão. Mas para um regime político é ainda o início da infância e da enorme ternura que merece. Tivestes pais generosos, que sem egoísmo, te entregaram a pais adoptivos para te ajudarem a crescer. Nem sempre o fizeram da melhor maneira. Cometeram erros de que não és culpada.
Baptizaram-te com o nome de Liberdade Igualdade Desenvolvimento. Foste fazendo jus ao teu nome. A liberdade instalou-se com firmeza e em certos aspectos com algum exagero. Confundiu-se com libertinagem. A igualdade fez-se direito, mas não facto. Mas, reconheço, deram-se passos importantes na aproximação de diferenças. O desenvolvimento foi avançando, mas marcou passo. Podia e devia ter ido mais longe. Escorregou em maus investimentos, em opções erradas, em corrupções descaradas. Ainda és jovem e precisas de beber inspiração, no ponto de partida, para fazeres jus ao teu nome.
Quarenta anos depois foste entregue a pais padrastos. Tiraram-te o sonho que devias cumprir. Ainda te chamas liberdade, mas condicionada. O segundo apelido foi mudado para desigualdade necessária. O terceiro, aprisionado e substituído por Austeridade. A democracia que devias e ser já não és encontra-se enredada em estranhos conceitos de liberalismo. A democracia que afinal somos todos nós, reduziu-se à deposição de um voto que não respeitas. Desvalorizas-te, todos os dias, com a apatia, a descrença, a ausência de participação. Mas apesar disso dedico-te uma enorme ternura. Afinal tive a honra de te ver nascer e agora acredito que renascerás. Não pode ser de outra maneira sem me negar a mim próprio que também sou democracia.
MG