Decepados
No tempo da escola salazarista não havia nenhum aluno que não conhecesse a história do Decepado. Duarte de Almeida, o Decepado, era apresentado como um exemplo de heroísmo, por ter arriscado a sua vida em prol dos valores pátrios. Numa batalha contra Castela, em que era porta-estandarte, resistiu ao inimigo até cair exangue. Para lhe tirarem a bandeira nacional cortaram-lhe a mão direita. Resistindo à dor conseguiu segurá-la com a esquerda que também foi decepada. Por fim, ainda teve força para a segurar com os dentes. E só a largou depois de numa última investida, do inimigo, cair esgotado. A bandeira acabou por ser recuperada por outro combatente, não sendo capturada pelos castelhanos. O que aconteceu a seguir já tem pouco significado, mas o facto é que Duarte de Almeida, muito ferido, acabou por sobreviver.
Hoje temos o país a ser atacado por forças menos nobres. São inimigos sem rosto ou com rosto sem vergonha. Perante a indiferença geral vão decepando a pouco e pouco a soberania. A nação que somos todos nós, com algumas excepções, está decepada nos direitos dos cidadãos que a constituem. E o mais irónico é que são os comandantes das nossas forças que nos põem o braço no cutelo. E ironicamente trazem a bandeira na lapela. A bandeira enquanto símbolo de independência está cativa. Estamos na lapela de decepadores. Sobreviveremos?
MG