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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

A muitos custos e penas mantenho a vida light. Mesmo nas leituras, deixei as prosas mais pesadas. Das últimas que li, “Os Enamoramentos” de Javier Marias, deixou-me de rastos. Tive que ler cada página aí umas três vezes. Agora contento-me com textos mais leves, sem cair na banalidade. Por exemplo, li o “Esfaqueador da Régua” da Mosaico de Palavras, para aí umas três vezes, porque nunca pesa, e me liberta das angústias do “cota-diano”. Título enganador, e não é para me gabar, mas também fiz uma perninha na sua escrita, com a Goreti, a Gabriela e o Manhente.
Se mudei alguns hábitos, ainda não consegui livrar-me do vício do café, mas já estou no fundo da escala, isto é, no descafeinado. Hoje fui até à Pastelaria Paraíso dar de beber à dor, onde sou servido pela menina dos olhos tristes. Por estar a executar outra tarefa, não foi a menina que me atendeu, mas a proprietária, que veste sempre um número abaixo, de tal modo, que nem sei se a roupa está por dentro ou por fora da pele.
Pedi um descafeinado. A menina que não ouviu o pedido, mas percebeu que o barulho da máquina, não correspondia, ao do habitual carioca, saiu disparada da sua tarefa, para corrigir o eventual erro da sua patroa. Mostrou muita proficiência e até me emocionei pela sua preocupação. No entanto, e por me aperceber da sua aflição, disse-lhe que estava tudo bem, pois tinha pedido um descafeinado. Voltou ao seu trabalho, depois de comentar.
-Pois, está sempre a mudar!
-É verdade, mas todo o mudo é feito de mudança, disse parafraseando Camões. A menina não deve ter entendido, mas não vem daí mal ao mundo.
Sentei-me na companhia dos jornais, e como sempre, comecei pelo desportivo, onde apenas leio notícias do meu clube, deixando o outro em espera. Quando estava na última página, vejo uma mão a surripiar-me o diário que estava em repouso. Levantei os olhos, e vejo uma dama de meia a idade a dizer, “posso? . Pode." Que lhe havia de dizer? O jornal nem é meu. Se calhar foi o anjo da guarda a tirar-me da tentação de ler um “tablóide”.
Depois chegou um jovem, que chega impreterivelmente, às três em ponto. Para a sua motoreta. Entra com o seu capacete na mão, pede um café, dá um dedo de conversa à menina, bebe-o, dá outro dedo de conversa, para fazer dois, e parte, sem me “roubar”, nenhum jornal, na sua motoreta, para destino incerto.
Chegou a hora de eu também partir. Coloco a chávena no balcão e despeço-me com um “até à manhã”. A menina reage:
-Já não volta hoje?
-Não, respondo. Voltar para quê? Já bebi o meu café.
-Podia voltar para me ver, replica a menina.
-Eu já a vi hoje, claramente vista, disse, continuando na onda camoneana. Além disso, quero dormir com a imagem da menina com a boca fechada. E se volto, quem sabe, se mostra os dentes, e em vez de sonhos tenho pesadelos.
Saí rumo a outras paragens, porque a vida light, tem muitas variantes, para um,
Cota-diano