Crónica de uma detenção anunciada
As razões que levaram à detenção de José Sócrates são, neste momento, uma total nebulosa. Não existe informação rigorosa sobre acusações em concreto. A situação é propícia a todas as especulações. Para os órgãos de comunicação social que se alimentam destes casos mediáticos, a notícia caíu como sopa no mel. Não é por acaso que o CMTV está em emissão exclusiva desde o início do dia e que o semanário o Sol vai fazer uma edição especial. O revanchismo que sempre manifestaram em relação ao ex-primeiro- ministro está, finalmente, a ser recompensado.
Independentemente do que a investigação vier a provar, e ao contrário da surpresa que a sua detenção parece ter causado, era um acontecimento previsível. Basta recorrer à história recente. De facto, as acusações, com ou sem fundamento, estão presentes no seu percurso político desde que assumiu a direcção do PS. Não houve caso mediático em que não se procurasse envolvê-lo. Não se perdeu nenhuma oportunidade para o levar à barra dos tribunais.
A detenção de Sócrates era, portanto, uma detenção adiada. Os seus inimigos sabiam que seria uma questão de tempo e de oportunidade. E ela surgiu finalmente no estilo rocambolesco em que a nossa justiça actua. Uma actuação tipo big brother. Um espectáculo mediático que diverte as massas sem pão. Não ponho as mãos no fogo por ninguém sem excluir o sistema de justiça, exageradamente endeusado, mas que é composto por homens com convicções e interesses como todos nós. Coloco a dúvida: neste processo haverá alguém com as mãos totalmente limpas?
MG