Condenados às galés
Quem nascer hoje com a nacionalidade portuguesa nasce condenado. Já tem sobre os seus frágeis ombros a carga da austeridade. E terá de a carregar até fazer trinta anos. Quem tiver hoje trinta anos carregará a austeridade até aos sessenta. Quem tiver sessenta viverá com ela o resto dos seus dias. Quem o disse foi o senhor que ostenta o título de Presidente da República Portuguesa. Este senhor considerou, publicamente, que o país ou seja cerca de dez milhões de cidadãos portugueses, estão condenados, tirando as excepções, a trinta anos de austeridade. Esclareça-se que a palavra não é um conceito abstracto:significa pior qualidade de vida, acrescida pobreza, miséria sem fim. E isto porquê? Porque este senhor considera que temos que pagar, a mata cavalos, a dívida pública. Se depois de a pagar já não restarem portugueses pouco interessa. O que interessa é que se desabituem de comer para a pagar. Se a consequência for morrerem, que se lixe.
Este senhor e os patriotas que com ele estão à três anos a salvar o país (entidade abstracta) e a condenar os cidadãos (entidade concreta) a uma vil tristeza, consideram que receberam um mandato divino, dessa entidade abstracta, os sacrossantos mercados, no concreto especuladores capitalistas, a quem devem vassalagem. Actuam como uma espécie de nobreza dos novos tempos, casta superior e infalível, com direito a decidir sobre a vida e a morte da ralé. Vivem numa Idade Média da verdade revelada, de quem são os detentores e os guardiões. Não admira, por isso, que toda e qualquer opinião contrária seja acusada de heresia. Não custa acreditar, que o manifesto de setenta personalidade de diversos quadrantes, seja condenada como uma manobra de perigosos antipatriotas, vende pátrias, ao serviço das forças do mal
Se os iluminados que dirigem a nau portuguesa, por mares de ignomínia, nunca antes navegados, decidem que a arraia miúda está condenada a remar nas galés durante trinta anos é porque assim tem que ser. O seu conceito de vida resume-se a pôr os cidadãos ao serviço da economia e não esta ao serviço das pessoas. É o regresso à escravatura. Escravatura da força do trabalho.Escravatura das nações mais pequenas pelas mais poderosas. É tempo de revolta dos escravos. Que os setenta se multiplquem tantas setenta vezes quantas forem necessárias. Urgente.
MG