Chegou a feira do livro
Sem memória não há desenvolvimento. Sem memória não haveria humanidade nem civilização. Os registos das descobertas do homem são a razão de ser do progresso. Falar de registos é falar de fontes, de documentos e em última instância de livros.
Os livros nunca foram, nem são, os bem amados, dos cidadãos. Nas suas prioridades encontram-se necessidades básicas como a alimentação, mas também outras menos básicas, a saber: comprar carro, fazer férias e diversos atractivos da sociedade de consumo. O livro é neste contexto um parente pobre. Apenas algumas elites o desejam e o adquirem. E é pena. O livro, pelo que representa como memória de todos nós, merecia outra atenção. Negá-lo é negar a própria sobrevivência.
Proliferam lojas de moda dos mais diversos produtos. Mas as livrarias dificilmente subsistem fora dos meios mais cosmopolitas. Por indiferença. Longe das grandes cidades, é difícil ter acesso ao contacto com o livro, a não ser em bibliotecas e mesmo aí vegetam no esquecimento. As livrarias são cada vez mais locais aristocráticos, locais de culto restrito e elitista.
Há, porém, alturas em que o livro se liberta. Baixa do seu altar e desce à rua. Já que o povo não vai ao livro vem o livro ao povo. E aí todos podem vê-lo, sentir-lhe o odor de papel, ouvir o sussurro do movimento das suas páginas, sentir a textura das letras, saborear a sabedoria que transportam. Meus senhores e minhas senhoras, alegrai-vos. Chegou a feira do livro.
MG