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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Esta é uma carta que não chegará ao destinatário, o que não significa que não possa nem deva escrevê-la.

Senhor Bruno de Carvalho,

O senhor foi eleito por um número maioritário de sportinguistas para  exercer o cargo de Presidente da direcção. Mas sejamos rigorosos. Não foi eleito por todos os sportinguistas. E mesmo aqueles que o elegeram, não lhe deram, certamente, mandato para exercer o poder absoluto, ou pior, totalitário. Nem lhe deram mandato para se colocar acima dessa instituição centenária que é o Sporting. Nem para confundir o Sporting com a sua pessoa.O senhor há-de passar e o nosso clube há-de continuar .

Eu se tivesse direito de voto, não teria votado na sua lista. Contudo, deixe-me dizer-lhe que, inicialmente, me impressionou favoravelmente. Geriu bem alguns dossiês que tiraram o clube do sufoco em que se encontrava, subordinou as despesas às receitas, colocou a situação económica no caminho certo.Gerou a indispensável estabilidade.  Procurou combater o sistema.Prometia fazer um bom mandato. Quiçá mais do que um.

No aspecto desportivo as coisas correram bem. Com uma equipa constituída por jovens e jogadores de baixo custo, fez uma época acima das possibilidades, graças a factores irrepetíveis: a má prestação de um aniversário directo, a competência da equipa técnica e sejamos honestos, alguma sorte à mistura. Na mesma linha teve a lucidez de contratar um treinador jovem mas promissor e que, garanto-lhe, virá a ser um dos melhores. Até aqui nenhum reparo a fazer.

No entanto, sem que nada o justificasse, de um momento para o outro começou a cometer erros crassos. Talvez inebriado pela época anterior, colocou sobre a equipa uma pressão desnecessária. Qualquer análise lúcida aconselhava a evitar essa pressão. Porque foi  assim, jogo a jogo, que tivemos êxito. Como se isto ainda fosse pouco, começou a disparar em todas as direcções. Isolou-se. Não há histórico de alguém ter ganho guerras com esta estratégia. Mas a cereja em cima do bolo aconteceu nesta época natalícia, quando começou a atirar nas suas próprias tropas. Já não chegava ter desbaratado munições à toa, gastou as que lhe restavam para destruir a sua própria casa.

Senhor Bruno de Carvalho, diz-se que aprender com os erros é um sinal de inteligência. Ainda acredito na sua lucidez. Está a tempo de reconsiderar procedimentos e arrepiar caminho. Mas digo-lhe que a sua margem está a ficar curta. Tem de vestir globalmente a pele de presidente e de deixar a de adepto. Tem de repensar a estratégia comunicacional. Tem de entregar o futebol a quem sabe de futebol. Tem de se concentrar na função presidencial que é dirigir um clube ecléctico, com competência e bom senso.

Por fim digo-lhe, porque estou atento à realidade, que tem muitos adversários internos. Nunca os deixou de ter. Nem mesmo nos bons momentos. E pelo caminho que está a seguir vai ter cada vez mais. Alguns esperam a oportunidade de lhe fazer a folha. É pena que o bom trabalho que começou esteja em vias de estar em causa. Não é aconselhável voltarmos à estaca zero. Por isso lhe peço, como sportinguista, que abandone a soberba e a omnipotência. Desça à terra e demonstre a característica dos grandes homens, isto é, daqueles que ficam na história: a humildade. Em vez de dividir ouse unir. Para seu bem, mas sobretudo para bem do Sporting.

Desejo-lhe um novo ano de lucidez.

MG