Angústias de Natal
O Natal 2014 está de partida. Que vá em paz. Este Natal da família restrita e das compras não me deixa saudades. Nunca deixou. Condiciona os comportamentos e limita a liberdade de escolha. Se quiser ir a um restaurante não posso. Fechado. Se não for comer filhós ou rabanadas com os familiares sou apócrifo. Pior. Eu próprio me martirizo. E penso que devo ser o único carneiro tresmalhado do grande rebanho. É angustiante. Por isso quando este Natal parte fico aliviado. Fico eu, ficam os perus, fica o bacalhau, mesmo congelado, ficam as couves (ou pencas) arrancadas à mãe terra, ficam os pinheiros roubados às brincadeiras de infância. Sei que há-de voltar. Mas enquanto vai e vem alivio a minha angústia. Aliás é durante essa ausência que sinto o verdadeiro espírito natalício, na comunhão com essa grande família que é a humanidade. Até o bacalhau regressa feliz, às suas centenas de receitas, personalizadas por apreciadores. Sinto que a espécie humana não desapareceu da praça pública, por magia de um mágico louco. Dir-me-ão, é apenas um dia por ano. E eu pergunto: com que direito há-de ser sonegado? E ao longo de uma vida quantos dias me tiram? É certo que outros condicionalismos surgirão, mas mais opcionais e mais transitórios e onde posso exercer o livro arbítrio. Até ao próximo Dezembro.
MG