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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 
 

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Zeca Afonso

No centro da Avenida
No cruzamento da rua
 Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
 Não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga

Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga
Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela
T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha

 

O 25 de Abril de 74 começou por ser uma mensagem, em tons quase épicos, nas ondas da rádio. Depois foi ganhando corpo nas ruas e na euforia das gentes. Faz amanhã quarenta e um anos. Nesse dia a liberdade passou por aqui, gostou e ficou.

Teresa Torga começou por ser mais uma canção na voz de Zeca Afonso. "Mulher na democracia não é biombo de sala". Liberdade de manifestação, liberdade de expressão, "mas chega António Capela que aproveitando a barbuda só pensa em fotografá-la". Para além do simbolismo que a figura representa no episódio real que deu origem ao poema, "não há bandeira sem luta não há luta sem batalha", quem foi Teresa Torga?

Teresa Torga não é apenas um nome. Existiu e tem uma história. Artista do musical antes da revolução de Abril  "ela tinha sido fadista, actriz de teatro de revista e vivido durante algum tempo no Brasil. Reportava também a sua condição de paciente de um conhecido hospício".(citação do texto, gentilmente. enviado por Alan Romero em Abril de 2011) 

Teresa Torga deixou de ser apenas musa de canção e paradigma dos direitos da mulher, graças à divulgação do blog "Rua dos Dias que Voam" que recuperou uma entrevista sua dada à revista Plateia, e ao empenho do jornalista e investigador Alan Romero que lhe recuperou o rosto e a voz . Ganhou corpo e vida. Viverá .

Da lei da morte se libertou sobretudo devido à liberdade que Abril abraçou. Da liberdade de expressão que permitiu que fosse notícia de jornal (Diário de Lisboa) e personagem ficcionada por José Afonso "No centro a da Avenida  No cruzamento da rua As quatro em ponto perdida  Dançava uma mulher nua". Em mais uma efeméride do dia que pôs fim à ditadura, aqui quero recordar, de novo, Teresa Torga para que a sua memória viva no poema que a ressuscitou e no imaginário de todos aqueles que se tem interessado pela sua experiência de vida.

MG