Cair na real
No inicio da década de setenta Portugal era um país que estava a sair, lentamente, de uma economia muito condicionada por uma agricultura de subsistência. Um ténue desenvolvimento industrial à volta das grandes cidades do litoral, assim como o crescimento do sector dos serviços, atraiam gente dos campos, onde o futuro era repetitivo e limitado.
Os jovens com baixa escolaridade e poucas qualificações, aproveitavam esta janela de oportunidade, para para conseguirem condições de vida superiores à dos seus pais. Havia a intenção de mudar de vida e sabia-se que essa mudança exigia esforço, trabalho e sacrifício. Estes jovens, foram educados no pressuposto de que para triunfar na vida era preciso lutar e subir como se costuma dizer a corda a pulso. Era uma atitude humilde mas positiva, que se traduzia em altos índices de valorização pessoal.
O advento da democracia e a entrada na Comunidade Europeia trouxeram alguma prosperidade real, mas também muita prosperidade ilusória. Os filhos da geração pós 25 de Abril, hoje designada como geração à rasca, nasceu à sombra dessa aludida era de bem estar. Foi-lhe incutida a ideia, de que só pelo facto de terem nascido tinham lugar garantido na mesa dos deuses, que para viver bastava abanar a árvore das patacas ou esperar que dos céus chovesse mel. A ideia que se começa de baixo, foi sendo substituída pela ideia que à partida já se está no topo. Pura ilusão.
A afirmação de que com a mudança dos tempos se mudam as vontades, deve ser interpretada como uma porta aberta para a luta, num processo de constante dinâmica social, o que significa que, mesmo que se parta da pole position, para se ser vitorioso é preciso muita aplicação. E esta atitude não casa com o comportamento de jovens, que vejo encararem a sua formação, facultada gratuitamente pelo erário público ,com displicência e desleixo. É hora de cair na real.
MG