Geração trezentos que parva que teve de ser
Nasci, no pós -2." guerra mundial numa pequena aldeia de um país pasmado chamado Portugal. Os meus pais eram pequenos e humildes proprietários agrícolas. Não tive acesso ao ensino liceal, privilégio, como muitos outros jovens dessa época. O ensino médio e secundário era frequentado por uma elite com emprego sempre garantido. No meu primeiro trabalho recebia uma gratificação sem qualquer tipo de recibo. Fiz a minha formação académica no ensino nocturno como trabalhador estudante.
As gerações anteriores, hoje no fim da linha, não tinham acesso a saúde educação ou qualquer outra protecção social. Sobrevivem com reformas de poucas centenas de euros. Alguns sós , tristes, infelizes, desamparados. Não tiveram mordomias na infância, não têm privilégios na velhice. São a geração trezentos.
As pessoas nascidas depois da década de 70 beneficiaram de uma prosperidade, embora artificial, como nunca tinha existido neste país. Tiveram acesso a ensino gratuito e universal, a protecção na saúde, fundo de desemprego, subsídios. Criaram os seus filhos como príncipes e criaram-lhes a ideia de que tudo era fácil. Apesar de muito desperdício os níveis de escolaridade aumentaram, os licenciados cresceram, embora mais que as necessidades do mundo do trabalho.
Uma canção "que parva que sou" descreve o que já se sabia: jovens sem emprego ou com trabalhos desqualificados para a sua formação e com salários baixos (geração quinhentos). E em jeito de revolta questiona se vale a pena estudar. Discordo. Apesar das dificuldades, prefiro esta situação aquela que existia no passado. E adquirir conhecimentos é sempre uma mais valia. A aprendizagem não pode reduzir-se a uma contabilidade de deve e haver. A maior ou menor riqueza monetária de um país é um valor transitório, a riqueza intelectual e cultural é um valor perene e garantia de progresso futuro.
MG