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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 

 

Ponto prévio: não gosto de ditadores, nem de ditaduras, até porque desse manjar já tive a minha dose. Orgulho-me de ter dado a minha contribuição, modesta, para o fim do Estado Novo. Orgulho-me de ter contribuído, ainda mais modestamente para o triunfo da democracia. Tive acção política no PREC, mas hoje estou reformado desse peditório.

 

Não gosto de ditadores, quer se chamem Mubarak, Santos, Castro e entendo a revolta do povo egípcio contra a miséria em que vive. Mas não entendo o anátema lançado sobre o presidente, como se tivesse de carregar a cruz de todos os torcionários que existem no mundo. Ainda menos entendo a convicção de  que derrubado o ditador , a democracia está ali ao virar de uma esquina, quando o mais certo é lá estar um outro ditador mascarado ou não de democrata. Não entendo, como não se entende que este MubaraK não passa da ponta de um iceberg que governa o Egipto há décadas. Esse iceberg usa farda, botas cardadas e anda de arma a tiracolo. O nome da parte mais visível do iceberg pouca importa. Pode ser  Mubarak, como já foi Sadat. E só cai se o agora cândido exército assim o quiser.

 

A democracia é o pior regime, mas ainda não se inventou outro melhor, disse Churchill. A história mostra-nos que a democracia é um regime caro e por isso acessível a países ricos ou no mínimo remediados, o que não invalida que os pobres não tenham aspirações a dela usufruir. A democracia é viável quando o grau de desenvolvimento e riqueza permite fazer chegar às classes socialmente mais baixas uma fatia significativa dessa riqueza. Quando isso não acontece, está aberta a via para poderes totalitários ou para regimes com democracias de faz de conta.

 

A ausência de um desenvolvimento sustentado, aliado a mentalidades dominadas por conceitos religiosos rígidos e conservadores, são um caldo de cultura para todo o tipo de autoritarismos. Antes de se falar de amplas liberdades, pondo o carro à frente dos bois, é necessário colocar estes países na rota do desenvolvimento, melhorar as condições de vida dos povos e alterar mentalidades. A democracia virá por acréscimo. Até lá por muitas justas  ilusões que se criem, a democracia com MubaraKs ou outros, penso que será uma miragem no deserto.

 

Zé Cavaco