Revista do ano 2010 Agosto
Nasci e cresci numa aldeia. Era uma aldeia parecida com tantos outras. Era uma aldeia cheia de gente e de vida. Gente simples, gente modesta, gente feliz. O trabalho era o lema do dia a dia. Mas num quotidiano de trabalho duro havia sempre tempo para conviver de forma singela e saudável. A convivência aprendia-se na família e continuava na escola. A escola ainda separada por sexos fervilhava de vida, de alegria de entusiasmo. A escola era a imagem de uma comunidade cheia de vitalidade.
Nos anos sessenta um processo tardio e desregulado de desenvolvimento começou a destruir a minha aldeia. A emigração e a migração começaram a levar pessoas para horizontes mais promissores. A aldeia foi-se despovoando. Apenas ficaram alguns resistentes, fiéis, quase religiosos da agricultura de subsistência. A Comunidade Europeia destruiu o que restava das actividades tradicionais. Os mais idosos foram desaparecendo. Para os mais novos a alternativa é migrar. Mas há alguns que continuam a resistir. Merecem ser apoiados, pois são a esperança que resta para que a aldeia sobreviva. E pode sê-lo se houver vontade política de vistas largas, de desconcentração, de reordenamento, de regresso ao passado mas com futuro. A minha aldeia , que são todas as aldeias, pode voltar a ser um lugar de vida plena.
MG