Palavras, palavras, palavras.
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Poder e/ou contra poder?
Se fosse possível destacar a palavra mais usada neste ano que vai terminar, estou convicto que seria a palavra crise. Se tivesse a natureza do sabão ,penso que já teria desaparecido por uso excessivo. E não deixaria de ser uma bênção para a nossa sanidade mental. E salvo melhor opinião considero que a sua banalização corre o risco de ter o mesmo efeito que a história do lobo mau. Ou seja ,de tanto se invocar, quando chegar de facto ninguém lhe vai ligar. E assim , quem sabe , talvez nunca venha a existir.
Outra palavra, que entrou no nosso vocabulário neste arrastado final de 2010 foi a badalada Wikileaks. Políticos afastados da estrutura do poder, esquerdistas contestatários obssesssivos, ingénuos de utopias, anarquistas, rejubilaram com a denúncia dos podres da instituição chamada Estado. É como se renascesse a velha utopia do fim do Estado dos malvados e a vitória final do estado Transparente e Puro. Pura e santa ilusão!
Apetece aplicar aqui um silogismo: o Estado é constituído por humanos (alguns), os humanos são imperfeitos, logo faz parte da natureza do Estado ser imperfeita. A ideia que é possível viver sem Estado ou mudar o Estado que temos não tem pernas para andar. Como escreveu (Visão) o insuspeito José Gil, " que aconteceria se se começasse a desvendar os segredos militares, políticos e financeiros? Ruiria simplesmente o Estado e todos os que dele beneficiam" que somos todos nós, acrescento eu. E o que a história nos mostra, é que o fim de um determinado Estado tem levado ao começo de outro. O novo Estado, total e pretensamente transparente "levaria ao totalitarismo" (Gil).
Na minha análise a verdade é esta. O segredo é inerente ao funcionamento do próprio Estado, como cúpula de toda a organização social. Há injustiça, corrupção, violência à sombra desse segredo. Sem dúvida. É o pior sistema que existe? Será, mas parafraseando Churchill, ainda não se inventou outro melhor, nem se mudou a natureza humana. Enquanto assim for não vejo alternativa. E o que sobrará desta investida justiceira? Possivelmente, um agitar das águas superficiais. No fundo, o mar continuará calmo e sereno como sempre.
MG