Mealheiro colectivo
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No tempo em que a palavra consumismo não era pronunciada em Portugal. No tempo em que o conceito Estado Providência não existia. No tempo do salve-se quem puder,no tempo da pobreza assumida, a palavra mealheiro associada à poupança privada era dominante do berço à tumba.
Nesses tempos sem reformas universais, subsídios ou outras protecções, cada cidadão tinha de ir pondo de parte as poucas migalhas ( daí o uso da expressão migalheiro nalguns locais) que sobravam do seu magro rendimento.
Nestes tempos difíceis, foi o governo que recuperou a ideia do mealheiro colectivo. Com efeito nas propostas de alterações laborais para salvar o país do colapso, surgiu a ideia de um fundo para garantir indemnizações em caso de despedimento. Quem até aqui as pagava era o patronato quando dispensava trabalhadores. Com a nova norma, acabam, em última instância, por ser os próprios a financiar o seu eventual despedimento. Dizem que é uma garantia que salvaguarda que empresas falidas possam cumprirem as suas obrigações. Poderá ser, mas o facto é que inverte o princípio das responsabilidades numa relação laboral.
Quem diria que depois de décadas de progresso social seria esta a situação? Penso que para isto muito contribuiu esta ideia errada: a prosperidade encontra-se na tarja de um cartão de crédito. Esta falsa prosperidade já tem sido demonstrada pela história, mas a memória curta da sociedade não a consegue reter.