Eleição da universalidade
Portugal foi hoje eleito membro não permanente no Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2011-2012. Esta eleição conseguida contra a maioria das previsões vem provar que Portugal apesar de não ser um país de grande dimensão territorial é um país grande. É uma grandeza quase milenar. Essa grandeza está bem patente na sua história.
O que a história nos mostra é que a nação portuguesa foi talhada a golpes de espada a partir de um pequeno núcleo situado Entre -Douro e Minho. E só passou de um condado enfeudado a Aragão e Castela a uma nação de dimensão universal pela vontade, persistência, coragem e inteligência de uma elite constituída por segundas linhas da nobreza, na interpretação de José Matoso. Como foi com base num pequena nobreza, apoiada pela chamada arraia-miúda que afastou em 1383-85 a integração no reino de Castela. Como foi com a visão da geração saída da revolução de 1383 que se iniciou a expansão marítima.
A classe dirigente da dinastia e Avis teve o condão de perceber que Portugal para resistir à hegemonia castelhana precisava de alargar horizontes. Com esse espírito aventurou-se por "mares nunca dantes navegados" e estendeu raízes por todos os continentes. Rompeu fronteiras fechadas, inventou rotas desconhecidas, alargou convivências entre povos e culturas, iniciou um processo que hoje se chama globalização.
Portugal viveu da pimenta da Índia, do açúcar das ilhas, do ouro do Brasil, do mercado africano. Perdido o império, regressou às origens ao seu território original, onde não há riquezas naturais para explorar. Mas com a capacidade inventiva da sua gente está a encontrar novas índias na inovação e pioneirismo tecnológico. É aí que se encontra o futuro de um país territorialmente periférico, mas com a mesma dimensão universal da nação que deu novos mundos ao mundo. Precisamos que a actual classe política se liberte dos pequenos interesses, da mesquinhez e dê as mãos, mau grado as suas diferenças ideológicas legítimas, na defesa do interesse geral. E que perceba de uma vez, que a grandeza de Portugal está para além da discussão do pormenores da pequena política caseira. A grandeza de Portugal é bem maior que as suas fronteiras naturais. Foi esse reconhecimento internacional que a eleição para ONU veio comprovar.
MG
PS Para além do que escrevi tem que se valorizar, também, o papel desempenhado pela diplomacia nesta vitória.