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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Em monami6f.blogspot.com

Tavira , tirando algumas unidades hoteleiras e a recente abertura de um shopping, continua a ser uma cidade pachorrenta e provinciana. É certo que perdeu o charme que possuía no século XX, mas ainda conserva um certo encanto. Um dos seus ex-libris o quartel de infantaria é hoje um centro de lazer para militares. Quando lá  fiz a recruta militar, o CISMI era um viveiro de juventude que muito animava as suas ruas tortuosas e pejadas de igrejas. Quando nos deixavam transpor a porta de armas, saíamos  aprumados com a nossa farda número um e com as grandes botas cardadas  que nos punham nos pés, marchávamos com ar gingão para atrair os olhares das moças que atrevidas e curiosas nos espreitavam debruçadas nos parapeitos das janelas. Depois de algum tempo de clausura e aplicação militar sem a presença de um sorriso feminino, aqueles risos, às vezes trocistas, eram como uma bênção.

 

Depois de regressarmos da passeata e durante a refeição da noite aproveitávamos para falar das experiências desse regresso à normalidade. Embevecia-me particularmente com as aventuras do Peixoto de Alcabideche. E porque um homem não é de pau, para além da mulher que deixara ,saudosa à espera, dizia que já se tinha envolvido com umas moças de Tavira e até estava de cama e pucarinho com uma dama casada. No dia em que partimos para outros destinos, enquanto observava as janelas fechadas, imaginei-me a a ver por detrás das cortinas damas chorosas pela perda do Alcabideche.

 

 Por ironia do destino eu e o Peixoto fomos transferidos para Alcabideche e para o Regimento de Artilharia de Costa, única unidade que não dava mobilização para a guerra colonial . Nunca percebi porque recebi essa benesse, mas o Peixoto disse-me que  era protegido de uma alta patente militar. Fizemos juntos a especialidade, ele ficou a cumprir o serviço militar na sua terra natal e muitas vezes no aconchego dos seus lençóis e a mim coube-me rumar a outras paragens, por curiosidade bem mais agradáveis. Não voltei a ver o Peixoto durante a vida militar.

 

Depois de ter arrumado as galochas, costumava frequentar Paço de Arcos onde na época tinha uma namorada. Num certo dia vínhamos no meu Fiat coupé para Lisboa onde trabalhávamos, quando por distracção ou aselhice abalroei um desprevenido carocha que circulava na marginal. Enquanto procurava resolver a situação, a namorada de ocasião tentava arranjar um transporte que a levasse para Lisboa. Eis senão quando pára um Porsche tipo desportivo. Surpresa das surpresas. Calculem que ao volante do bólide ia nem mais nem menos que o Peixoto, que logo se ofereceu para levar a dama. Uma desgraça nunca vem só, pensei. Já não me basta a chatice do acidente. Agora o garanhão do Peixoto ainda me rouba a namorada. Afinal não foi roubada pelo Peixoto, mas acabou por ser roubada por um cinquentão, bem colocada numa companhia de aviação americana. Espero que lhe tenha feito bom proveito.

 

Ao chegar ao local de trabalho perguntei à transitória namorada: Então o cavalheiro de Alcabideche não te faltou ao respeito. Não me faltou ao respeito , nem nunca faltaria, pois conversa puxa conversa descobri que o homem é invertido, ou seja gosta mais dos belos corpos masculinos e nem tinha sido preciso confessá-lo, pois os seus maneirismos não enganam ninguém. Fiquei boquiaberto. Como foi possível lidar tanto tempo com o fulano sem uma leve suspeita. Só então percebi que aquela fanfarronice das conquistas não passava de uma forma de esconder a sua verdadeira vocação sexual num meio que poderia ser-lhe hostil. Ou como diz o ditado "quem vê caras, não vê corações".

 

MG

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