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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Quando não há nada para dizer o que se faz? Pôe-se música. Não sei como nem porquê lembrei-me desta:

 

 

mas também não sei porquê isto fez-me lembrar o tempo em que se escreviam cartas" Querida mãe, querido pai como é que vão, eu estou bem graças  Deus", depois falava-se do dia a dia, de alegrias,  de tristezas, de sucessos, de insucessos, do calor, do frio, enfim das banalidades que povoam o nosso quotidiano. Às vezes, quando a vida o proporcionava escreviam-se cartas de amor. Aí imperavam as emoções, as ilusões, as desilusões, enfim os sonhos que alimentavam o nosso ego. Era bom escrever cartas: desenvolvíamos a arte da escrita, prendíamos no papel pensamentos que de outra maneira acabariam por nascer e morrer sem uma expressão real. E se os milhões de cartas que se escreviam fossem guardadas como documento para posterior consulta, que acervo documental genuíno não teriam os historiadores do futuro! Era bom receber cartas. É difícil imaginar por exemplo a alegria estampada no rosto de soldados imberbes encerrados na clausura de um quartel, quando em formatura na hora de distribuição do correio, uma voz gritava "fulano de tal". No romance "Ninguém Escreve ao Coronel" de Gabriel Garcia Marquez, o coronel Buendía esperou a vida toda por uma carta que devia anunciar-lhe a atribuição de uma pensão. Como teria ficado feliz e essa carta tivesse chegado.

 

Hoje, raramente, se escrevem cartas. Primeiro foram destronadas pelo advento generalizado do telefone, mais prático, mais directo mas sem o mesmo encanto. No telefone as palavras não têm a mesma ternura, além de que se perdem na imensidão do espaço, se esboroam como vento passageiro. Agora com a massificação do telemóvel estamos no reino das mensagens cifradas que tenho alguma dificuldade em descodificar. Dizem que é o progresso. Dizem que é a modernidade. Eu tento acompanhar os novos tempos mas continuo saudoso das velhas cartas. E porque não voltar a escrevê-las?

MGl