Coimbra II
Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a lua a faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer
Saudade
Coimbra está distante fisicamente, mas sempre presente como impressão que me enebria os sentidos e purifica o espírito. Na minha última visita a esta inspiradora cidade, reavivaram-se memórias sobre o tempo mítico de quinhentos, que inspirava Luís Vaz de Camões. Dos seus poemas nutro especial carinho por "descalça vai para a fonte" que aqui reproduzo.
Luís de Camões (1524? - 1580)
Descalça vai para a fonte
MOTE
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura;
vai fermosa, e não segura.
VOLTAS
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
cabelos de ouro o trançado,
fita de cor de encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura
Calvagando a inspiração camoneana, aqui me atrevo a uma remake século XXI, sem qualquer veleidade poética, a propósito de uma negrita que invadiu o meu horizonte visual:
De chinelo vai ao shopping
De chinelo vai ao Shopping,
morena de pele escura;
Vai charmosa e bem segura.
Na rosto traz alegria,
na boca tem um sorriso,
que faz perder o siso,
a qualquer hora do dia;
salpicados de ternura,
os olhos têm desejos,
os lábios sugerem beijos;
vai charmosa e bem segura
Na tshirt carecida,
os seios assomam gulosos,
do amor mais desejosos,
que das agruras da vida;
a anca cheia, fogosa
presa na saia apertada,
ondula ao longo da estrada;
bem segura e bem charmosa.
MG