Coimbra eterna
Adoro visitar Coimbra. Adoro sentar-me na esplanada do Fórum. Extasio-me com as águas ancestrais e serenas do Mondego, onde repousam amores e desamores de milhares de gerações. Embebedo-me no verde dos seus frondosos arvoredos. Perco-me no casario ondulante das suas encostas que me lembram cidades miniaturas construídas com peças lego. Observo e contemplo. Relaxo o corpo e aquieto a mente. Fujo por momentos ao um quotidiano repleto de cinismo, de mentira, de traição. E não fora uns cavalos fumegantes à solta e em correria sem sentido, como formigas em carreiros de asfalto, julgaria estar no mítico paraíso. Mas mesmo assim Coimbra é uma cidade única na beleza, na personalidade, na esperança.
Enquanto vagueava em espírito pela sua existência eterna e admirava as suas tricanas de agora e de sempre, deslizando formosas e inseguras, lembrei-me de Luís Vaz e da sua descalça Leonor. Sem ter engenho e arte para poetar, atrevi-me a meter foice em seara alheia e apresentar a minha versão pretensamente poética e meramente formal do seu genial poema.
MG
C'alçada vai pro ME
Isabel pelo asfalto.
Veste Pirre Cardin
E calça sapato alto.
Na cabeça o penteado,
Na mão a leve tremura,
No rosto aquela candura,
De ter esquecido o passado.
E no sorriso inocente
Mente , mente, mente,mente,
Vai sem nenhum sobressalto
E calça sapato alto.
No ventre leva a esperança,
Prenhe de renovação
Pra nascer no meio do verão,
Mas ser Trocada/o na Mata
Por um sujeito de lata.
Mostra indiferença ao assalto
E vai de sapato alto.
MG poético