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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Caro Pedro, porque bastante caro me estás a sair. Voltaste ao teu papel de cidadão, desceste do limbo ao vale de lágrimas que ajudaste a construir e  usaste o "correio" século XXI para carpir as tuas lágrimas. Comoveste-me. Mas deixa-me dizer que essas são lágrimas de crocodilo. Primeiro aplicas a receita da austeridade a qualquer preço: baixas salários, cortas subsídios, crias desemprego, fomentas miséria. Todos( ou quase) te dizem que essa receita não está a resultar: baixa o consumo, baixa a produção, geram-se falências...menos poder de compra, menos consumo... É um ciclo vicioso que se devora a si próprio. Dizem mas não ouves. Continuas imperturbável nesse caminho errático. Empobrecer, empobrecer, empobrecer. Conduzir para o abismo uma nação secular.  

Caríssimo Pedro, estás a corroer-me as entranhas, a afogar-me num mar de desvario, a contaminar-me o ar que respiro com poluição de insensibilidade. E ainda tens lata para vir fazer o acto de contrição. Tiraste-me o Natal e o que é mais grave os outros trezentos e sessenta e quatro dias. Roubaste-me a esperança da juventude, hipotecaste-me a segurança da meia-idade, desrespeitaste os meus cabelos brancos. Feito lamechas choras sobre a desgraça que estás a criar. Fazes-me lembrar os versos de Chico Buarque (fado tropical)

 "Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo uando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

 "Meu coração tem um sereno jeito 

 E as minhas mãos o golpe duro e presto,

 De tal maneira que, depois de feito,

 Desencontrado, eu mesmo me contesto."

 

Com uma coisa tenho de concordar: Este não é o Natal que merecíamos. Este não é o governo que precisávamos. Este não é o país que os egrégios avós sonharam. Prometes um Natal melhor, quiçá um futuro mais próspero, mas não consigo levar-te a sério. Como se pode levar a sério quem abjurou todas as suas promessas. Como se pode levar a sério um moço de recados da grande Germânia? Como já te disse numa carta anterior, tu passarás e eu ficarei. Sempre assim foi há muitos séculos. Mas as mazelas que estás a causar, têm custos que vão para além do pão que estás a tirar. Recuperarei. Peço-te um favor: não voltes a desejar-me um bom Natal. A hipocrisia tem limites. A demagogia está desacreditada. Não ridicularizes mais a função da política. Ao menos ganha um pouco de pudor!

 

Zé Portugal

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