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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Todos o viam, ninguém a conhecia. Muito menos sabiam o seu nome. Chamavam-lhe homem sem nome. No sítio onde nasceu e foi baptizado já não se lembravam dele. Nunca gostou do nome que lhe puseram, Máximo. Não encaixava no seu perfil discreto.Escondeu-o num recanto escuro da sua memória. E jurou a si próprio que não o conheceriam por tal nome. Nem morto. Abandonou-o e seguiu o seu destino.

 

Sereno passava pelas gentes e ninguém o conhecia. Sabiam dos seus modos respeitosos, da sua casta linguagem. Nunca lhe ouviram uma palavra marginal, nem saír do tom sereno. Viam-no a ajudar velhinhas mancas a atravessar a rua, desafiando condutores bêbados ou apressados. Viam-no nos transportes públicos dando o lugar a mulheres prenhas ( de esperanças diria ele) uma espécie em vias de extinção. Viam-no no aeroporto a ajudar putativos emigrantes do cinismo político a arrastar as malas carregados com vidas bloqueadas.

 

A sua educação roçava o absurdo. Nunca pronunciou um impropério, nem na versão ligt. Antes de partir desta vida construiu o seu epitáfio. Deixou expresso ao seu testamenteiro os dizeres que o identificariam para a posteridade, com uma ressalva clara. O seu nome nem morto seria pronunciado. Quando os apreciadores de literatura tumular olhavam para a sua lápide liam : aqui jaz um cidadão exemplar que nunca mentiu, nunca injuriou, nunca invejou, nunca cobiçou mulher alheia, nunca votou em político hipócrita, nunca traíu. Um cidadão impoluto e sem nome. Acabada a leitura levantavam os olhos, invariavelmente, e sem barreiras de linguagem, diziam: Foda-se! Este cabrão era o máximo.

 

MG