Crescei, multiplicai-vos e fazei por isso.
"Crescei e multiplicai-vos" disse Deus, se a reprodução bíblica é exacta, depois de juntar o homem e a mulher. Não estão descritos mais pormenores, pelo que não ficou explícito se o acto sexual era limitado à procriação. Nem sequer nos "Mandamentos" há referência ao exercício da sexualidade. Assim e com a informação disponível podemos concluir, que a prática do referido acto pertence ao livre arbítrio dos utilizadores e que é necessário praticá-lo. A gravidez é uma consequência e vem por acréscimo.
Em 1982, um deputado do CDS, João Morgado, mais papista que o Papa, fez durante o debate da despenalização da interrupção da gravidez, a seguinte afirmação: "o acto sexual existe para procriar". Logo a deputada e excelsa poetisa Natália Correia lhe deu resposta adequada num poema que ficará como um clássico da poesia satírica. Para quem assistiu em directo a esta pérola "parlamentar" e para quem não a conhece aqui o reproduzo para recordação ou conhecimento. E presto modesta homenagem a essa grande mulher da cultura portuguesa.
“Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”
(Natália Correia - 3 de Abril de 1982)
PS
Não leve a sério o Morgado!
Se o coito lhe dá prazer,
faça-o que não é pecado
e é isso que Deus quer.
Porque se não o quisesse,
para fazer a procriação
inventava outro sistema
que não a fornicação.
E no pestico sexual
a dama também manduca
porque o direito é igual
na arte do truca-truca.
Use pois o instrumento,
essa é a sua função
não seja como o Morgado
capado por devoção.
MG