Cultura e desenvolvimento
Incultos, portanto pobres
Os resultados do Eurobarómetro sobre participação em actividades culturais são eloquentes: só 6% dos lusitanos revelam um «alto» ou «muito alto» interesse pela cultura. O entusiasmo grego é ainda menor: 5%. Até a Roménia e a Hungria ultrapassam Portugal neste capítulo: 7%. Os líderes dos consumos culturais são a Suécia (onde 43 % da população manifesta um envolvimento elevado), a Dinamarca (36%) e a Holanda (34%).
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Não é por ser rico que o Norte da Europa se tornou culto; antes foi por apostar na educação para todos e na democratização da cultura que se tornou rico.
A cultura não é a flor na lapela – mas sim aquilo que funda a nossa visão do mundo e a nossa capacidade para o transformar.
Quando é que Portugal aprenderá isso?
Inês Pedrosa (sol sapo.pt)
Faz todo o sentido. Sábias palavras. Já aqui o escrevi muitas vezes. O progresso e o desenvolvimento da humanidade está indissociavelmente ligado à evolução cultural. O aumento dos níveis de bem estar são anteriores ao aparecimento dos especialistas em economia e das suas falíveis teorias. Porque estes, grosso modo, vêem a árvore e ignoram a floresta. Os economistas reduzem a actividade humana a um deve e haver. Ignoram ou desconhecem a contribuição da cultura para as grandes mudanças civilizacionais. Infelizmente estamos numa fase de predomínio do pensamento meramente económico. O resultado está à vista.
A classe política activa que por cá temos é o espelho da incultura institucionalizada. A oposição, especialmente a mais radical, cristalizou no discurso ultrapassado do fim do século dezanove. Reduzem a luta política à velha luta entre proletariado e burguesia, entre os exploradores capitalistas e os eternos explorados. Apresentam soluções desfasadas do contexto em que vivemos. Não compreendem ou não querem compreender por tacticismo a complexidade das sociedades actuais. A sua ideologia e a sua acção carecem de dimensão cultural.
Está comprovado que riqueza e cultura caminham juntas. Separá-las é como abrir a porta a uma pobreza recorrente. O problema começa aí. Não há saída para esta nem para nenhuma crise económica fora do contexto global da dimensão humana. Uma sociedade dirigida por "analfabetos" culturais não se pode cultivar. Sem a democratização real da educação e da cultura é difícil sair da pobreza. "Quando é que Portugal aprenderá isso?" Quando é que as elites esclarecidas, democráticas e progressistas chegam ao poder?
MG