25 de Abril: entre a soneca e a sonolência
Passou mais um dia 25 de Abril. Alguém chamou à sessão solene na AR, a sessão soneca. Estas comemorações no hemiciclo merece bem o epíteto. Discursos de circunstância, sonolentos, vazios de conteúdo. Um frete que todos os presentes esperam que acabe depressa. Mas as manifestações comemorativas tocam pelo mesmo diapasão. Transformaram-se num ritual, onde os ritos se repetem, mecanicamente, de ano para ano. E apenas um grupo de fiéis se empolga com a cerimónia, igual a tantas outras a que os mesmos sempre comparecem quando convocados pelo seu clero. É a opção entre a soneca e a sonolência.
O 25 de Abril foi na sua essência um movimento libertador. Derrubou um regime que estava moribundo e se arrastava numa agonia à espera de misericórdia. Devolveu à nação o direito de escolher os caminhos do seu destino colectivo. Consolidou o processo democrático com os seus defeitos e virtudes. Agora, os portugueses, podem decidir a vários níveis quais são os seus governantes. É certo que nem sempre decidem bem. É certo que os oportunismos se aproveitam da ingenuidade dos eleitores. Mas na contabilidade do deve e do haver, o saldo a favor dos valores de Abril, é muito positivo.
Sem falsa modéstia, também me considero um cidadão de Abril. Tive a grande honra de ter visto cair o regime no largo do Carmo. E como outros, ter dado com a minha presença, uma pequena contribuição, para o êxito desse evento. Contudo, o 25 de Abril não foi apenas um momento, mas um processo atribulado até ao 25 de Novembro. E continua a ser um processo contínuo de actualização numa realidade dinâmica. E isso é o mais importante. As comemorações, com mais ou menos cravos, são o que são, cerimónias do foro do simbólico. E assim sendo, cada vez mais sonolentas.
MG