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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

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Não somos todos iguais

Os ricos têm mais

 

Despaís, Pedro Sena-Lino

 

 

(novo romance)

 

A afirmação de que somos todos iguais é uma balela. Não somos iguais porra nenhuma. Não somos, nunca fomos e não sei se alguma vez seremos, pois não existe informação credível sobre o futuro. Todos somos diferentes e essa constitui a riqueza da humanidade. É na diversidade que vida faz sentido. Ninguém é igual a ninguém e umas vezes somos mais outras vezes somos menos. Há os que têm mais centímetros, os que têm mais peso, os que são mais belos, os que têm mais anos, os que têm mais gajas (ou gajos) os que usam mais neurónio, os que têm mais pilim, os que têm mais cor. (E antes que me acusem de defender ideias racistas quero esclarecer que não me incomoda ouvir um caramelo dizer "raio do preto" da mesma forma que não me escandaliza se um tipo mais escurinho me chamar "cara pálida" para usar uma expressão cinéfila made in states). A desigualdade é injusta? Pois é! A verdade, se é que existe ,é que anda meio mundo a tentar enganar meio mundo desde que há mundo. (E antes que me acusem de passar para o lado dos exploradores quero garantir que em teoria sou pela igualdade e não apenas enquanto princípio).

 

Da mesma forma, a ideia de que todos temos os mesmos direitos é uma história da carochinha para enganar papalvos. Não temos nem aqui nem na China. (não pode aver melhor exemplo) Não há iguais direitos entre nações, nem iguais direitos entre pessoas. Uns têm mais direitos outros têm mais deveres. Uns têm de gramar mais austeridade, outros nem por isso. Uns estão sempre a apertar o cinto, outros a alargá-lo. Uns gozam merecidas férias de verão, outros gostariam de lhe tomar o gosto. Uns têm direito a muito sexo, outros têm o mesmo direito a imaginá-lo. (E antes que me acusem de estar obcecado com a coisa, confesso que foi peditório para que já dei porque já escasseiam os meios)

 

Mas viver na ilusão da igualdade tem as suas virtudes. Uma delas é suportar melhor a desigualdade, é acreditar que será possível atenuá-la, é construir horizontes de esperança. É nessa lufa lufa que se aguenta mais e mais. Que às vezes se espera e às vezes se desespera. Que se planeiam durante meses mais umas férias. Que se anseia pela sua chegada. Mar, sol, corpos ao léu, regresso ao "rame rame". Até que, na desigualdade, a morte nos separe. Não somos, nunca fomos iguais, mas ninguém pode dizer que não tentámos sê-lo e que continuaremos a tentar. Eis a utopia humana.

 

MG