Portugal dos pequeninos
Começou uma nova novela da tarde nas televisões. Passa em todos os canais sem aviso prévio, sem atribuição de título e sem guião determinado. O argumento é livre e fica a cargo da imaginação dos actores e da especulação dos espectadores. É o que se chama um espectáculo aberto. E que espectáculo! Tem suspense, traição, conflito, ódio, vingança, reconciliação Tem todos os ingredientes de um grande "dramalhão". Está, porém, a ser representada por actores menores que lembram garotos a jogar às escondidas. Por isso pode chamar-se Portugal dos pequeninos.
No primeiro episódio que se apresentava como o único, foi logo eliminado o Mau. Os críticos dividiram-se, o povo exultou. Quando todos esperavam a palavra fim o anunciado Bom saiu de cena, a audiência aumentou, e assim nasceu um novo episódio. A audiência aumentou o climax subiu. Ao contrário das previsões dos analistas e da vontade dos espectadores, o vilão recusou-se a sair de cena e jurou que recuperava o Bom. No terceiro episódio, o Bom continua desaparecido, mas espera-se que volte envolto em nevoeiro.
O guionista omisso, criou a criatura mas perdeu-lhe o controle. Perdeu-se no labirinto do seu palácio e não controla a acção. Pior, está refém da própria acção, que decorre no jardim infantil. Entretanto, ao lado milhões de euros fogem da Bolsa para parte incerta. Os credores afiam as facas da especulação. A novela da garotada continua. Esperam-se os novos capítulos.
MG