Português suave e triste
Português suave e triste
Da puta que te pariste
És filho de uma monção.
Enquanto lavas no rio
Roupa de fome e de frio
Inventas uma nação.
Com as tábuas do teu caixão
Português suave e triste
Do povo de onde saíste
Fizeste a revolução
Com a tua própria mão.
Com teu sangue abençoado
Regaste o teu chão sagrado
Mas a tua vida não
Português suave e triste
Com saudade partiste
Nas asas de uma oração,
Com pimenta te vestiste
E como foste viestes
Água pura. Fruta agreste
É a tua condição
Português suave e triste
Tão alto que tu subiste
Nas ondas do mar imenso.
Subiste alturas de incenso
E do Olimpo caíste
Nos bidonvilles de lama
Povo, povo, quem te ama?
Português suave e triste
Voltaste mas já partiste
Com a mala de cartão
Aqui recusam-te o pão,
A vida, a dignidade,
Permitem-te a saudade
Mas a tua vida não.
MG