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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Ir a uma feira do livro é, para um viciado em livros, como para um católico militante ir em Maio ao santuário de Fátima. Como o católico não vai à espera de uma benesse imediata, como um milagre, mas por sentir uma necessidade espiritual, o adorador da galáxia de Gutemberg não vai pela necessidade de  adquirir o livro A ou B, mas para um encontro especial com o espírito das letras. Num certo sentido, ambos cumprem um ritual.

 

Ir em Maio à feira o livro de Lisboa, mãe  de todas as feiras, tem um sabor especial. É como viajar por dentro dos livros. E para os amantes  de livros à antiga, estes são papel, tinta, letras, imagens. Existem, têm substância, satisfazem todos os sentidos: despertam o tacto, atraem o olhar, despertam a audição no restolhar das páginas, interrogam com a sua mudez, não são indiferentes ao olfacto. Ali estão discretos na sua sabedoria, humildes nas milhares de ideias e mensagens que guardam, disponíveis e ao alcance de qualquer mão. Deixam-se folhear sem protesto, felizes por um convívio aberto com a sua razão de ser, os leitores. Ali voltam a ter um feliz encontro com os criadores que lhes deram vida e asas para voar.

 

Os rituais alimentam a fé. As feiras de livros, em qualquer lugar, são para além de lugares de divulgação e comércio, sítios onde se retoma a ligação umbilical com a aventura humana. Ali está o ADN da humanidade, a palavra escrita, o registo da memória, a prova de temos um passado e a garantia de que teremos um futuro. No espírito daquelas páginas está o conhecimento acumulado e a alma de todos os que construíram. Hamurabi, Homero, Hesíodo, Vergilio, Heródoto, Sócrates, Arquimedes, Aristófanes, Cícero, Horácio, Santo Agostinho, Leonardo de Vince, Camões, Galileu, Newton, Stendhal, Vítor Hugo, Cervantes, Anderson, Eça, Saramago...são nomes que de repente me vêm à memória, entre tantos outros que é impossível enumerar.

 

Os livros na sua quietude de papel são organismos vivos . Se os entendermos, se os vivermos, se com eles convivermos, entramos na sua intimidade e viajamos, ao fim e ao cabo, por dentro de nós próprios. Em Maio esperam-os no parque Eduardo VII, em Lisboa. De braços abertos.

 

MG

 

 

 

 

 

 

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