Recordações
Uma amiga (Fernanda Abreu) que não vejo há muito tempo mandou-me, via facebook, esta foto tirada no início dos anos oitenta, junto a uma bonita igreja de uma terrinha chamada Aldeia Gavinha, durante um visita de professores da Escola Secundária de Alenquer, ao Património do concelho, patrocinada pela autarquia alenquerense. Aqui estou na primeira linha no estilo bombazina, com um farfalhudo bigode e um ar pretensamente intelectual. Já me curei! Muita água correu entretanto debaixo das pontes. Alguns companheiros de então foram levados pelas correntes para outras paragens, outros navegaram para outras dimensões onde espero tenham o lugar que merecem. Os que por aqui ainda andam, com mais ou menos rugas e mais ou menos cabelos brancos, continuam a manter a jovialidade e a mesma juventude. Sim porque esta está no espírito e não no BI. Desses tempos míticos de confiança nos contratos sociais, de esperança no constante aperfeiçoamento da humanidade, pouco resta. Nesse dia alegre e soalheiro em que ficamos imortalizados numa película fotográfica, nenhum dos presentes pensaria na volte-face que que hoje estamos a viver. Uma regressão civilizacional impensável. Esse mundo que tínhamos orgulho de estar a construir para nós e para os vindouros já quase não passa de uma ténue recordação. Bendita recordação. E é nela que de quando em vez nos refugiamos numa fuga consciente a esta realidade desumana que nos estão a impor.
MG