Regresso ao futuro
Pode ser um lugar comum, uma verdade à La Palisse ou uma filosofia esotérica, quando se diz que o passado é uma recordação, o futuro uma perspectiva e apenas o presente a vida no concreto. É no agora que respiramos, sentimos, pensamos. Há certamente quem não se liberte do passado e quem aponte a felicidade para o futuro. Isto, se for reflexão especulativa, tudo bem. Mas quando este pensamento é assumido por alguém que tem influência nas nossas vidas, como o actual inquilino de Belém, torna-se bastante grave. De facto, o senhor Presidente convocou finalmente o Conselho de Estado. Mas convocou-o para abordar a calamitosa situação da economia, o desemprego de um milhão de cidadãos, os níveis imorais de pobreza, o aumento descontrolado da dívida, a incompetência e a insensibilidade social da governação? Não! Convocou-o para se pronunciar pelo período pós-tróika, o que acontecerá, na melhor das hipóteses daqui a um ano. É o que se chama empurrar a realidade com a barriga. Sim, porque um Presidente que perante a situação do país a caminhar para o abismo, reúne os Conselheiros para fazer um exercício sobre o futuro, só pode ter o sistema digestivo na cabeça.